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TEORIA MILITAR: Arte operacional soviética (1918 a 1942)




A atual escalada de guerra na Europa, entre a OTAN e a Rússia, que tem a Ucrânia como teatro de operações, invoca um estudo da arte operacional soviética, desde sua fundação até heroica vitória sobre a Alemanha de Hitler, desnazificando e desmilitarizando a maior máquina de guerra do imperialismo europeu até então.

Muitos estudiosos sobre o tema se deixam levar pela ansiedade e pelo ritmo das escolas militares ocidentais, esperando um formato de guerra com batalhas rápidas e decisivas, movimentos de pinça e guerras relâmpago (blitzkrieg), ou operações de "choque e pavor", como foram usadas pelos EUA contra a Iugoslávia e o Iraque, que impõem desastrosas baixas as populações civis. Movimentos que não fazem parte da tradição militar russa nem interessam politicamente ao Kremlin hoje.

Existem muitos mitos criados pelo ocidente capitalista sobre quem e porque venceu a II Guerra mundial, o maior conflito da história da humanidade. Mitos integrantes da ideologia da Guerra Fria, alimentados até hoje pela historiografia oficial ocidental. Sobre quem, existem mitos muito apelativos, de que os exércitos nazistas foram derrotados graças a operação do desembarque na Normandia, contada para quem não tem a menor noção das datas e desfecho do conflito. O tão propalado "Dia D", ocorreu em 6 de Junho de 1944, enquanto que a tomada de Berlim, pelo Exército Vermelho, que obrigou Hitler a se suicidar em 30 de abril de 1945, só ocorreu quase um ano depois.

Mas, mesmo quando militares e estudiosos se veem obrigados a reconhecer que o Exército de Hitler foi derrotado pela URSS, costumam a alegar que isso se deve a fatores como a superioridade numérica das tropas soviéticas e ao rigoroso inverno, que foram elementos verdadeiros mas não decisivos para a vitória da URSS. Segundo esse mito, o Estado operário soviético não possuía equipamentos ou táticas militares sofisticadas para derrotar o nazismo.

A capacidade produtiva e a tecnologia soviéticas já eram bastante avançadas na época, assim como as táticas que se aperfeiçoaram durante o conflito (Curva de Aprendizagem), reduzindo o efeito prejudicial da política do stalinismo, como se percebe entre o início da operação Barbarossa (22/6/1941) e a vitória soviética na Batalha de Stalingrado (2/2/1943), ponto de virada da guerra na Frente Oriental, marcando o limite da expansão alemã no território soviético, a partir de onde o Exército Vermelho empurraria as forças alemãs até Berlim, através da operação Urano, que flanqueia e cerca as tropas nazistas. Com as primeiras vitórias da URSS na Guerra, ainda em 1942, o primeiro mito imperialista a ser derrotado ainda durante a guerra foi o da própria invencibilidade alemã.

Sem contar que, ao contrário do que conta a mitologia ocidental, nos primeiros anos da invasão Barbarossa, os alemães dispunham de pelo menos um milhão de homens a mais na frente de batalha na invasão e ocupação do território soviético, cerca de 4 milhões de soldados do Eixo, a maior força de invasão da história das guerras, invadiu a União Soviética ocidental ao longo de uma frente de 2.900 quilômetros de extensão. Diferente do resto do mundo, a economia da URSS continuou crescendo, não foi abalada pela crise economica de 1929, não precisou da corrida armamentista e da indústria bélica para se soerguer no período entre as primeiras e segunda guerra, continuou crescendo sem o plano Marshall após a guerra e em 1961 lançou o primeiro homem ao espaço e o primeiro aparelho celular, a partir de pesquisas iniciadas em 1935.

A arte militar soviética é precursora da atual escola militar russa. Tanto a soviética como a russa atual precisem ser vistas não apenas pelos aspectos técnicos militares mas principalmente pelos seus contextos históricos e geopolíticos.

O Exército Vermelho, criado dos escombros do Exército Russo após a primeira guerra mundial por Trotsky, assegurou o triunfo do Estado operário contra um cerco de 14 países e da contra revolução. Já em 1920, adquiriu experiência de combate e desenvolveu técnicas formidáveis com Tukhachevsky na guerra contra a Polônia, de "operações sucessivas", "ataques escalonados" e "batalhas profundas". Como descreve Serge:

"O cerne da arte operacional soviética foi encontrado em primeiro lugar na noção do Exército Vermelho de “operações sucessivas”. De muitas maneiras, isso contrariava o desejo alemão de travar uma batalha decisiva. Em vez disso, o pensamento soviético baseava-se na suposição (com base na experiência da Grande Guerra e da Guerra Civil) de que era tolice planejar a aniquilação do exército inimigo em uma única operação decisiva. Isso foi uma rejeição total, em outras palavras, do estilo de pensamento do “Plano Schlieffen”. Em vez disso, os primeiros teóricos do Exército Vermelho argumentaram que a chave para a vitória era a capacidade de travar uma sequência de operações conectadas ou encadeadas, alimentando a segunda e a terceira ondas preparadas (o que os soviéticos chamavam de “escalões”) ao longo do mesmo eixo de avanço... 
Já no final da década de 1920, portanto, o Exército Vermelho estava claramente convergindo em muitos dos conceitos-chave que colocaria em prática na década de 1940. Em particular, havia um consenso emergente de que as operações ofensivas teriam de ser sequenciadas (isto é, encadeadas ao longo do mesmo eixo) com segundo e terceiro escalões preparados que pudessem seguir o primeiro pacote de ataque no mesmo eixo de avanço. Isso ganhou mais vida com o exemplo de Tukhachevsky de que as guerras futuras exigiriam ação de tanques em massa, da ordem de muitos milhares de veículos, para dar à ofensiva poder de combate adequado." Grande Pensamento Serge

Mas, desde a morte de Lenin (1924), o início do processo de burocratização do Estado na década de 1930, também vitimou a escola militar e os melhores oficiais bolcheviques. A arte operacional militar desenvolvida foi perseguida, Tukhachevsky foi sumarimente exeutado, acusado de colaborar com os nazistas durante o Grande Expurgo, sendo condenado e executado pelos Processos de Moscou. Os melhores da elite militar russa foram eliminados em 1937. A URSS foi enfraquecida em suas defesas enquanto Stalin confiava em sua política de colaboração com o nazismo (Pacto Molotov-Ribbentrop). Depois da ofensiva brutal dos exércitos nazistas sobre o território soviético, algumas técnicas da arte operacional soviética foram reabilitadas e adaptadas de modo vascilante por Timoshenko e depois por Zukhov (que servira a Frunze em 1919 e a Tukhachevsky em 1924) durante a Grande Guerra Patriótica. As orientações de Stalin, "o grande organizador de derrotas" atrapalhavam mais do que ajudavam, provocavam o definhamento das vantagens táticas da ofensiva do Exército Vermelho e davam chance para a recuperação do inimigo, aumentando enormemente as perdas humanas para a URSS.

A confissão de Tukhachevsky – de crimes que não cometeu – tornou-se o ponto de partida para um massacre generalizado das altas patentes militares. Praticamente todo o alto comando do Exército Vermelho foi espancado até confessar trabalhar para o fascismo. A carnificina infligida ao Exército Vermelho em 1937-38 foi surpreendente. Cerca de 33.000 dos 144.000 oficiais foram removidos de seus cargos no total. Mas o dano foi mais grave nos escalões mais altos. O Exército Vermelho tinha 186 comandantes de divisão, dos quais 154 foram reivindicados pelo terror, junto com 8 de 9 almirantes, 13 de 15 generais de nível de frente e 3 de 5 marechais. Juntos, isso significa que, em um período de dois anos, Stalin matou, aprisionou ou exilou 83% de seus oficiais militares de mais alta patente. A trágica ironia, é claro, é que não houve conspiração militar, porque se houvesse, o alto escalão militar poderia ter tentado um golpe para salvar suas próprias vidas – afinal, o Exército Vermelho era a única instituição na URSS com poder de fogo e hierarquia disciplinada para lutar contra o NKVD. Mas porque eles eram, de fato, comunistas leais, eles simplesmente tateavam em confusão cega enquanto Stalin os massacrava. (idem)

Agora os problemas são outros. O Exército Russo não é mais o Exército Vermelho, ainda que usufrua de algumas de suas heranças tecnológicas. O Exército da Federação Russa  foi um contraponto de um núcleo centralizado do Estado burguês russo que se insurgiu contra o saque da "doutrina de choque" promovido pelo imperialismo sobre a URSS na era Ieltsin, formando um poderoso Complexo Militar Industrial graças a parte da herança da URSS como segundo potência miliar por longo período no século XX. Agora, é esse instrumento que obstaculariza a continuidade da marcha expansionista da OTAN em direção ao Leste.

Toda derrota da OTAN, a máquina de guerra do sistema imperialista mundial, em si, já é uma vitória dos povos oprimidos e da classe trabalhadora.

Mas, uma série de aspectos da contrarrevolução capitalista contrabalanceiam a defesa da Rússia contra a OTAN. O atraso de oito anos e as vacilações do Kremlin na defesa de Donbass teve um custo de 15 mil vidas e permitiu a consolidação da máquina criminosa nazista de Kiev, suas atrocidades e seus laboratórios de armas bacteriológicas. Esse é um aspecto. A terceirização da guerra através de exércitos mercenários controlados por oligarcas, como o PMC Wagner, é outro.

Esses elementos são importantes na disputa pelo século XXI. Ajudarão a definir o resultado dessa guerra ou sua escalada para uma terceira guerra mundial. São elementos fundamentais para a luta dos povos oprimidos contra o imperialismo. Mesmo que a Ucrânia claramente não possa vencer essa guerra, mesmo que não consiga reconquistar os 25% de seu território de fevereiro de 2022, com todo apoio da OTAN, esses aspectos fazem parte da reação defensiva russa em sua ponderação para continuar vencendo no terreno militar e geopolítico, consolidando seu papel no bloco com a China contra o imperialismo. Mas essas derrotas, mais ou menos caras, do imperialismo para países capitalistas como a Rússia e a Síria, não são suficientes para livrar a classe trabalhadora dos males do capitalismo, é preciso organização independente dos trabalhadores conta o capital para fazer a luta de classes ir além, é preciso fundar uma nova internacional comunista para realizar essas tarefas.

Com essa publicação, que abrange da fundação do Exército Vermelho ao ponto de virada na segunda guerra mundial, 1942, a partir do texto do stie Grande Pensamento Serge daremos início a nossos estudos militares.

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Arte operacional soviética - começos problemáticos


Uma das muitas peculiaridades da Segunda Guerra Mundial foi até que ponto os alemães derrotados puderam escrever a história. O rápido início da Guerra Fria após a queda da Alemanha nazista transformou a União Soviética de aliada em adversária e despertou interesse na experiência alemã lutando contra o Exército Vermelho. O bando de memórias e material de ex-oficiais da Wehrmacht, combinado com o sigilo da URSS, garantiu que por muitos anos a única história da Guerra Nazi-Soviética sendo contada fosse a versão contada pelos alemães.

Nesta versão da história, o Exército Vermelho era um produto puramente de tamanho - ondas humanas, hordas de tanques toscamente construídos e uma tempestade tão avassaladora de massa biomecânica que derrubou uma Wehrmacht muito mais habilidosa e moderna. Mais tarde, no entanto, o estudo ocidental tornou-se consciente de que o Exército Vermelho também tinha uma doutrina operacional extremamente técnica e sistematizada conhecida coloquialmente como “Batalha Profunda” e, além disso, tornou-se evidente que, no final da guerra, o Exército Vermelho havia transformado essa doutrina em um sistema altamente letal que foi capaz de derrubar os exércitos japoneses e alemães com aparente facilidade.

Existem, então, dois Exércitos Vermelhos. Um é o servil rolo compressor humano que arremessa homens aos milhões contra o inimigo, e o outro é uma força altamente proficiente e sofisticada com um grau extremo de sistematização e doutrina. O primeiro é desprezado, o último é virtualmente fetichizado.

Essas visões esquizofrênicas do Exército Vermelho refletem apenas que os exércitos são instituições de aprendizado. O Exército Vermelho de 1941 era de fato um grande desperdício de homens (embora não intencionalmente), pois tendia a ser operacionalmente desajeitado e incapaz de manobras hábeis ou combate eficaz de armas combinadas. Era liderado por um corpo de oficiais inexperiente e politicamente paralisado. A experiência de lutar contra a Wehrmacht por quatro anos estava fadada, portanto, a deixar uma impressão indelével e ensinar lições importantes (embora caras), e em 1945 o mesmo Exército Vermelho havia se tornado uma força imensamente competente e monstruosamente poderosa.

O processo de tornar-se e de transformar teorias operacionais abstratas em realidades de campo de batalha foi terrivelmente doloroso, e até 1943 o Exército Vermelho estaria tateando penosamente ao longo da curva de aprendizado, procurando por algo que pudesse ser chamado de “arte operacional”. Para os milhões de soldados soviéticos que morreram nos primeiros anos da guerra, poderia parecer que o Exército Vermelho estava preso em sua própria busca por doutrina.


Política por outros meios: o contexto soviético

As instituições militares são um produto do substrato social e político que as cria e, por extensão, uma janela para esse mesmo substrato. Talvez não seja surpresa, portanto, que o Exército Vermelho fosse uma instituição única que, assim como a União Soviética, era simultaneamente neurótica, inseparavelmente ligada a pressuposições doutrinárias, atormentada por ineficiências sistêmicas e monstruosamente poderosa.

Os exércitos desenvolvem doutrinas e métodos de combate como resultado de sua mistura particular de experiências históricas, incentivos institucionais e ideologias e restrições materiais. A Wehrmacht alemã, por exemplo, pode ser entendida como a culminação de um antigo esquema prusso-alemão de fazer guerra - uma síntese de um pacote tático mecanizado moderno, a agressão sobrenatural no campo de batalha de Frederico, o Grande e seus herdeiros, e o élan operacional de o gênio eterno, Moltke. O grande inimigo e destruidor desta Wehrmacht, o Exército Vermelho, pode, em contraste, ser pensado como o resultado de um esforço para reconciliar as experiências militares da Rússia de 1914-1921 com os axiomas ideológicos do marxismo-leninismo e os poderes de mobilização de massa do stalinismo.

O Exército Vermelho como instituição foi a criação de emergência de um regime bolchevique infantil que se encontrava em estado de crise existencial. Um elemento essencial da ascensão bolchevique ao poder foi o fomento intencional de motins e deserções no exército czarista e um incessante programa antiguerra. Como resultado, quando os bolcheviques tomaram o poder no final de 1917, o exército russo havia praticamente deixado de existir - um fato que permitiu à Alemanha impor o tratado draconiano de Brest-Litovsk ao governo de Lenin, ostensivamente despojando a Rússia de sua orla ocidental. Quando o gabinete de Lenin chamou o recém-nomeado comandante em chefe, Nikolai Krylenko, para relatar as perspectivas de resistir aos alemães, ele respondeu simplesmente: “Não temos exército”. O colapso da Alemanha em 1918 misericordiosamente libertou os bolcheviques por um momento.

A Guerra Civil Russa que se seguiu colocou esses Exércitos Brancos contra o recém-formado Exército Vermelho dos Trabalhadores e Camponeses, que foi formado por um decreto bolchevique em janeiro de 1918. Os bolcheviques originalmente conceberam uma força “revolucionária” composta por trabalhadores industriais ideologicamente motivados - uma proletariado armado. Eles rapidamente determinaram que isso não iria funcionar. Em primeiro lugar, o proletariado na Rússia (que ainda era um país predominantemente rural e camponês) era simplesmente muito pequeno e, em segundo lugar, rapidamente se tornou evidente que uma mentalidade revolucionária - embora admirável - era insuficiente para vencer uma guerra moderna, e a perícia militar era necessário.

O Exército Vermelho, portanto, teve que ser construído de uma forma que fosse ideologicamente repulsiva para Lenin e seu partido. A base de mão-de-obra teria de ser extraída não dos trabalhadores urbanos, mas dos camponeses (na melhor das hipóteses, uma classe ideologicamente suspeita), liderados por oficiais militares experientes. Esses oficiais só poderiam ser adquiridos a curto prazo convocando ex-oficiais czaristas, chamados de “especialistas militares”. A necessidade de tais “especialistas” era indiscutível, mas eles eram inerentemente indignos de confiança e tinham de ser monitorados pelos comissários vigilantes do partido que esquadrinhavam o exército. Portanto, desde o início, as relações entre o partido e o exército foram tensas, porque o exército foi necessariamente construído a partir de potenciais inimigos de classe (camponeses e oficiais czaristas).


O nascimento do Exército Vermelho com Leon Trotsky como comissário militar

Através do recrutamento implacável de camponeses, os bolcheviques conseguiram improvisar um protótipo desajeitado, mas poderoso do Exército Vermelho, que conseguiu derrotar as Forças Brancas. Lutando em um amplo teatro que abrangia quase toda a extensão do perímetro russo, o Exército Vermelho conduziu operações abrangentes, transportando grandes forças por via férrea e conseguiu colocar a maior parte do antigo império czarista sob o controle bolchevique. Na Polônia, porém, eles enfrentaram problemas. O recém-formado estado polonês invadiu a Ucrânia em 1919, com o objetivo de empurrar as fronteiras da Polônia para o leste, enquanto a Rússia estava em estado de caos. Uma contra-ofensiva do Exército Vermelho expulsou os poloneses e avançou até os portões de Varsóvia. Aqui, no Vístula, os Reds foram derrotados em uma frente estreita com alta concentração de força, descobrindo que não conseguiram penetrar na frente polonesa.

Na Polônia, o Exército Vermelho encontrou sua própria versão da frente ocidental - defesas profundas e congestionadas que desafiavam a penetração, a exploração e o movimento e frustravam o padrão anterior de operações que levaram ao sucesso nos espaços mais propícios da Rússia, onde os bolcheviques controlavam a rede ferroviária. Houve, portanto, um incentivo para estudar esses problemas operacionais específicos e pensar sistematicamente sobre a guerra. Isso foi amplificado, no entanto, pelos pressupostos ideológicos do novo governo comunista.

Um dos princípios centrais do marxismo-leninismo - uma consequência do materialismo dialético - é a suposição de que a maioria dos empreendimentos humanos se desdobram na investigação científica. Operando com base nessa suposição, o Exército Vermelho com o tempo sistematizaria o estudo da guerra e criaria um léxico de terminologia extremamente técnico. Os resultados, como muitos dos trabalhos da União Soviética, foram um tanto paradoxais - sendo inovadores e extremamente rígidos. O corpo da obra soviética sobre arte militar é, sem dúvida, profundo e convincente. James Schneider, professor da Escola de Estudos Militares Avançados do Exército dos EUA, escreveu que “o núcleo mais coerente de escritos teóricos sobre arte operacional ainda é encontrado entre os escritores soviéticos”. Não é pouca coisa para um distinto adversário da Guerra Fria admitir.

A determinação soviética de estudar sistematicamente as operações militares concedeu-lhes uma visão avançada da natureza mutável das operações. Eles insistiram que a “ciência militar burguesa” nunca poderia compreender a natureza mutável da guerra e culparam isso pela catástrofe geral da Grande Guerra. O outro lado da moeda, por assim dizer, ou o lado negativo dos métodos soviéticos de investigação científica, era um profundo apego à doutrina. Como havia uma suposição implícita de que a guerra estava fundamentalmente aberta à investigação racional, estava implícito, por sua vez, que os assuntos militares poderiam ser administrados sistematicamente ou mesmo de forma formulada. Isso criou uma tendência à rigidez e à guerra “manual”, que prescreveu estritamente todos os tipos de densidades de frente de regulação, esquemas de implantação, e planejamento meticuloso - a antítese em muitos aspectos da noção alemã de comandantes de campo independentes improvisando com base na oportunidade e no instinto agressivo.

Essa tendência para uma doutrina rígida combinava bem com o sistema stalinista em desenvolvimento e seu aparato de controle metastático, e contribuiria para os sistemas de comando e controle esclerosados ​​que levaram o Exército Vermelho à catástrofe em 1941. No entanto, o Exército Vermelho sem dúvida percebeu um ponto crítico que os alemães não entenderam.

"Operações Sucessivas"

O cerne da arte operacional soviética foi encontrado em primeiro lugar na noção do Exército Vermelho de “operações sucessivas”. De muitas maneiras, isso contrariava o desejo alemão de travar uma batalha decisiva. Em vez disso, o pensamento soviético baseava-se na suposição (com base na experiência da Grande Guerra e da Guerra Civil) de que era tolice planejar a aniquilação do exército inimigo em uma única operação decisiva. Isso foi uma rejeição total, em outras palavras, do estilo de pensamento do “Plano Schlieffen”. Em vez disso, os primeiros teóricos do Exército Vermelho argumentaram que a chave para a vitória era a capacidade de travar uma sequência de operações conectadas ou encadeadas, alimentando a segunda e a terceira ondas preparadas (o que os soviéticos chamavam de “escalões”) ao longo do mesmo eixo de avanço.

Sergey Sergeyevich Kamenev, um dos primeiros comandantes do Exército Vermelho e um de seus primeiros teóricos, colocou desta forma:

Na guerra dos grandes exércitos modernos, a derrota do inimigo resulta da soma de vitórias contínuas e planejadas em todas as frentes, concluídas com sucesso uma após a outra e interligadas no tempo... A condução ininterrupta das operações é a principal condição para a vitória.
Mikhail Tukhachevsky

Mikhail Tukhachevsky, que comandou as forças soviéticas na Polônia, derivou conclusões semelhantes de sua própria experiência e argumentou que “a impossibilidade em uma ampla frente moderna de destruir o exército inimigo com um golpe força e a realização desse fim por uma série de operações sucessivas.

Ele acrescentaria mais tarde:

A natureza das armas modernas e da batalha moderna é tal que é uma questão impossível destruir a mão de obra do inimigo por um golpe em uma batalha de um dia. A batalha em uma operação moderna se estende por uma série de batalhas não apenas ao longo da frente, mas também em profundidade, até o momento em que o inimigo é atingido por um golpe final aniquilador ou quando as forças ofensivas estão esgotadas.

Outro oficial contemporâneo, Mikhail Frunze, argumentou que as guerras futuras seriam “longas e cruéis” e exigiriam a mobilização de toda a reserva de recursos do país. Apelou, por isso, à “militarização do trabalho de todo o aparelho civil” e a um “plano definitivo de reconversão da economia nacional em tempo de guerra”.

Já no final da década de 1920, portanto, o Exército Vermelho estava claramente convergindo em muitos dos conceitos-chave que colocaria em prática na década de 1940. Em particular, havia um consenso emergente de que as operações ofensivas teriam de ser sequenciadas (isto é, encadeadas ao longo do mesmo eixo) com segundo e terceiro escalões preparados que pudessem seguir o primeiro pacote de ataque no mesmo eixo de avanço. Isso ganhou mais vida com o exemplo de Tukhachevsky de que as guerras futuras exigiriam ação de tanques em massa, da ordem de muitos milhares de veículos, para dar à ofensiva poder de combate adequado.

Instruções Temporárias sobre a Organização de Batalhas Profundas

Em fevereiro de 1933, o Exército Vermelho publicou uma nova diretiva intitulada: Instruções Temporárias sobre a Organização de Batalhas Profundas. Isso, pela primeira vez, instalou a frase icônica no vocabulário técnico militar soviético e anunciou o surgimento da famosa doutrina soviética - o corolário comunista da blitzkrieg.

Mas o que exatamente são as Batalhas Profundas? Como Blitzkrieg, o termo tem prestígio generalizado, mas nem sempre é bem compreendido. Os regulamentos de 1936 emitidos pela equipe de Tukhackevsky o descreviam assim:

Ataque simultâneo às defesas inimigas pela aviação e artilharia nas profundezas da defesa, penetração da zona tática da defesa por unidades de ataque com uso generalizado de forças de tanques e desenvolvimento violento do sucesso tático em sucesso operacional com o objetivo do cerco completo e destruição do inimigo.

Isso não é muito útil. Isso soa como pouco mais do que uma ampla descrição do combate mecanizado e não é particularmente diferente da abordagem alemã para a guerra. Havia, no entanto, distinções críticas - particularmente uma nota posterior dos regulamentos de 1936 que estipulava "O inimigo deve ser paralisado em toda a profundidade de sua implantação, cercado e destruído".

Essa frase - "toda a profundidade de sua implantação" está intimamente relacionada ao argumento de que o sucesso tático seria desenvolvido em sucesso operacional e, em particular, representa a ênfase soviética estabelecida em "operações sucessivas", com vários escalões ou pacotes de ataque cuidadosamente preparados para que uma sequência de ondas poderia ser bombeada para a brecha.

A distinção entre as sensibilidades operacionais alemãs e a teoria da Batalha Profunda pode ser caracterizada da seguinte forma:

As operações alemãs foram German antecipadas e governadas em grande parte pela iniciativa e impulso orgânico. O poder de combate - em particular os panzers e os elementos motorizados - concentrava-se nas unidades de ataque, e os desdobramentos e investidas subseqüentes ficavam a critério do comandante de campo, que gozava de grande independência (pelo menos até dezembro de 1941).

As operações soviéticas, em contraste, foram meticulosamente planejadas e parcialmente carregadas, em que grandes pacotes de forças mecanizadas (incluindo tanques) foram organizados em vários escalões de reserva, que foram então alimentados sequencialmente através da brecha para explorar o eixo de avanço e impulsionar o ataque posterior.

Portanto, enquanto as operações alemãs estavam preocupadas em romper as linhas inimigas e destruir as forças inimigas e alvos operacionais, a Batalha Profunda visava explorar o mais fundo possível a retaguarda inimiga, com a intenção de alcançar as reservas operacionais ou mesmo estratégicas inimigas e invadir a infraestrutura de sustentação de combate longe na retaguarda inimiga.

Esteticamente, a impressão de uma operação alemã é a de pinças - exércitos separados manobrando um em direção ao outro para cercar e pegar uma massa inimiga no meio. A impressão de uma operação soviética é mais como um cinzel (uma talhadeira), sendo martelado repetidamente no mesmo local para abrir a estrutura inimiga.





No nível tático, o que isso parecia (pelo menos de forma idealizada) era algo não muito diferente do pacote mecanizado alemão. Uma vertente chave do pensamento soviético pré-guerra enfatizava “exércitos de choque” – formações especiais do tamanho de exércitos que eram sobrecarregadas com artilharia adicional e unidades de engenharia de combate, para maximizar o poder de invasão. Tais unidades de choque, por convenção, formavam o primeiro escalão de um ataque clássico, enquanto o segundo escalão seria mais leve em artilharia, mas mais pesado em tanques e forças motorizadas. Assim, o primeiro escalão de canhão pesado formava a unidade de invasão, enquanto o segundo escalão, mais móvel, garantiria a exploração e destruiria as unidades contornadas pelo primeiro escalão.

Aumentado por apoio aéreo aproximado e apoiado por pára-quedistas inseridos em pontos cuidadosamente selecionados, este era um sistema de combate projetado para superar o congestionamento e a indecisão da Grande Guerra, alavancando totalmente a guerra industrial em um ataque poderoso e sustentado. Em última análise, sua promessa reside no potencial de ataques escalonados para impulsionar o ataque à profundidade operacional - sugando não apenas as forças da linha de frente do inimigo, mas todo o seu agrupamento operacional, incluindo reservas e infraestrutura da área de retaguarda para a briga. Isso oferecia o potencial de transformar sucessos locais (táticos) em vitórias operacionais que poderiam derrubar setores inteiros da frente inimiga.

Os exércitos, é claro, existem em contextos políticos e, neste caso, o contexto político era o do stalinismo. Grande parte da liderança inicial do Exército Vermelho e teóricos proeminentes seriam vítimas dos expurgos stalinistas de 1937-38 - principalmente Tukhachevsky. Com uma caçada geral a inimigos, sabotadores, espiões e conspiradores (reais ou imaginários) em andamento, alguns funcionários soviéticos perceberam uma oportunidade de avançar em suas próprias carreiras. Um certo Artur Artuzov havia se tornado vice-chefe da inteligência militar em meados da década de 1930, antes de ser rebaixado sem cerimônia a um cargo de arquivamento de baixo escalão. Talvez por amargura, ou apenas pelo desejo de retornar às boas graças do partido, Artuzov escreveu uma carta ao chefe do NKVD, Nikolai Yezhov, alegando que tinha evidências de uma conspiração do alto escalão militar para derrubar Stalin e o politburo. Stalin respondeu mandando prender Artuzov (com base no fato de que ele só poderia saber de tal conspiração se fosse um co-conspirador) e torturado. Em 22 de maio, Tukhachevsky foi preso.

Parte do problema de Tukhachevsky era que seu perfil geral e comportamento eram questionáveis. Sua origem familiar era aristocrática e ele possuía uma arrogância e autoconfiança significativas (ele comentou quando jovem que se tornaria general aos 30 anos ou morreria em combate). Ele era competente, sabia que era competente, gostava de mulheres bonitas e de coisas caras, e não se importava que as pessoas soubessem disso. Isso tudo era bastante alarmante para os comunistas, e em particular para Stalin, que acreditava que o corpo de oficiais era, por natureza, um terreno fértil ameaçador para atitudes contra-revolucionárias - todo bom revolucionário fica de olho em Napoleão.

Os interrogadores do NKVD levaram quatro dias para derrubar Tukhachevsky. Sua confissão foi salpicada com seu próprio sangue: as manchas permanecem nas páginas até hoje.

A confissão de Tukhachevsky – de crimes que não cometeu – tornou-se o ponto de partida para um massacre generalizado das altas patentes militares. Praticamente todo o alto comando do Exército Vermelho foi espancado até confessar trabalhar para o fascismo. A carnificina infligida ao Exército Vermelho em 1937-38 foi surpreendente. Cerca de 33.000 dos 144.000 oficiais foram removidos de seus cargos no total. Mas o dano foi mais grave nos escalões mais altos. O Exército Vermelho tinha 186 comandantes de divisão, dos quais 154 foram reivindicados pelo terror, junto com 8 de 9 almirantes, 13 de 15 generais de nível de frente e 3 de 5 marechais. Juntos, isso significa que, em um período de dois anos, Stalin matou, aprisionou ou exilou 83% de seus oficiais militares de mais alta patente. A trágica ironia, é claro, é que não houve conspiração militar, porque se houvesse, o alto escalão militar poderia ter tentado um golpe para salvar suas próprias vidas – afinal, o Exército Vermelho era a única instituição na URSS com poder de fogo e hierarquia disciplinada para lutar contra o NKVD. Mas porque eles eram, de fato, comunistas leais, eles simplesmente tateavam em confusão cega enquanto Stalin os massacrava.

Os primeiros 5 marechais soviéticos. Apenas Budyonny (canto superior esquerdo) e Voroshilov (canto inferior central) sobreviveriam ao expurgo.

Com o cadáver de Tukhachevsky deitado em uma cova não marcada fora de Moscou, suas ideias naturalmente se desintegraram e o Exército Vermelho entrou em um estado de esclerose institucional e decadência exatamente quando a guerra se aproximava, embora mentes críticas e talentosas como Zhukov, Konev e Rokossovsky estivessem à espreita. nas asas. O expurgo do corpo de oficiais ocorreu ao mesmo tempo em que o exército se expandia rapidamente, de cerca de 1,5 milhão de soldados ativos em 1937 para mais de 5 milhões em 1941. Essa expansão maciça exigia a rápida promoção de oficiais, exatamente quando um grande número estava sendo expurgado e o restante espancado em inatividade rígida.

Além disso, a execução de teóricos-chave como Tukhachevsky levou ao abandono de muitas das melhores ideias do Exército Vermelho, e a batalha profunda foi abandonada em favor de brigadas de tanques divididas em um papel de apoio à infantaria. Embora Tukhachevsky continue sendo a vítima mais famosa do expurgo de oficiais, toda uma série de pensadores talentosos e perspicazes foi destruída. Homens como Alexander Svechin e Ieronim Uborevich, que de outra forma poderiam ter ganhado reconhecimento de nome em meio a carreiras militares distintas, são agora pouco mais do que obscuras notas de rodapé e nomes em listas de execução nos arquivos do NKVD.

O expurgo, portanto, garantiu que o Exército Vermelho iria para a guerra em um estado de confusão doutrinária e falta de sofisticação, liderado por um corpo de oficiais formado nos escalões inferiores de jovens superpromovidos e nos escalões superiores de favoritos sem talento de Stalin. Quando os alemães invadiram em 1941, um dos principais comandantes do grupo do exército era o apoiador de longa data de Stalin, Semyon Budyonny, que havia declarado explicitamente que acreditava que os tanques eram uma moda passageira que seria subordinada à cavalaria tradicional. Dificilmente a escolha ideal para ir de igual para igual com o pacote panzer alemão. O resultado foi a catástrofe tragicamente previsível de 1941. Sonhos de batalha profunda e forças de tanques em massa foram arquivados e a missão tornou-se mera sobrevivência.

Ritmo: Kharkov, 1942

Em praticamente todos os sentidos, 1941 foi um desastre total para o Exército Vermelho. De junho até o final de novembro, praticamente todas as grandes operações - defensivas e contra-ofensivas - terminaram em derrotas espetaculares e perdas surpreendentes. A partir de dezembro, a iniciativa do campo de batalha passou para o Exército Vermelho por um tempo devido à exaustão geral e desgaste da Wehrmacht, e os soviéticos foram capazes de conduzir uma ofensiva geral de inverno. Embora o elemento mais famoso desse esforço seja, obviamente, o contra-ataque nos portões de Moscou, o Exército Vermelho de fato partiu para o ataque em toda a enorme frente e conseguiu reverter alguns dos ganhos territoriais da Wehrmacht.

Do ponto de vista operacional, a Ofensiva Soviética de Inverno era bastante simplista e não tinha nenhuma semelhança com as operações cuidadosamente planejadas e escalonadas com as quais Tukhachevsky e seus apoiadores haviam sonhado. Em dezembro, o Exército Vermelho não tinha nem tempo nem recursos para planejar meticulosamente e preparar um ataque escalonado adequado - eles simplesmente lançaram uma série de exércitos disponíveis, invariavelmente mal equipados e mal preparados, contra os alemães para tirar vantagem do ataque da Werhmacht. estado de exaustão. Em abril, esses ataques alcançaram níveis variados de sucesso (à custa de muitas baixas) e criaram uma linha de frente estranha e ondulante que se estabeleceu onde quer que o combate ficasse sem energia.

Para Stalin e Hitler, cercados por seus oficiais de estado-maior e debruçados sobre seus mapas de situação a centenas de quilômetros de distância, um ponto específico nessa bizarra linha de frente se destacou. Esta era uma protuberância, ou saliência, que se formou ao redor da cidade de Izyum na seção sul da frente. A ofensiva de inverno soviética capturou com sucesso uma cabeça de ponte sobre o rio Donets, ao sul da principal cidade industrial de Kharkov. Por uma feliz circunstância, o Exército Vermelho também estava agarrado a uma ponte estreita rio acima, ao norte da cidade.

A natureza sinuosa e irregular da frente aqui criou oportunidades operacionais extremamente tentadoras para ambos os exércitos, tanto de acordo com sua disposição doutrinária quanto com direções estratégicas mais amplas.

O planejamento do Exército Vermelho em 1942 estava centrado na ideia, em grande parte impulsionada por Stalin, de que as operações alemãs naquele ano se concentrariam em um esforço renovado para capturar Moscou. Zhukov lembrou:

Stalin acreditava que no verão de 1942 os alemães seriam capazes de realizar operações ofensivas em larga escala... ele estava preocupado acima de tudo com o eixo de Moscou, onde operavam mais de 70 divisões alemãs.

Em março, Stalin emitiu ordens para que os comandantes das várias frentes do Exército Vermelho (novamente, sendo este o equivalente soviético a um grupo de exército) conduzissem uma avaliação geral de seus setores e fizessem sugestões sobre como poderiam conduzir operações que apoiassem o imperativo estratégico geral de defender Moscou. O comandante da Frente Sul, marechal Timoshenko, optou por estender essas instruções para justificar uma nova ofensiva. Timoshenko tinha uma combinação bastante desastrosa de características. Ele era agressivo e otimista - qualidades que não combinavam bem com seu talento medíocre geral e seu bom relacionamento com Stalin. Timoshenko queria atacar e acreditava que a saliência de Izyum era o local ideal.

Timoshenko e sua equipe elaboraram uma proposta para Stalin que argumentava que partir para a ofensiva no sul interromperia o desenvolvimento alemão, prejudicaria seus cronogramas e os forçaria a redirecionar as reservas para longe de Moscou. Stalin considerou esses argumentos e finalmente concordou em adotar um plano operacional para 1942 no qual “simultaneamente com a mudança para uma defesa estratégica”… o Exército Vermelho conduziria “operações ofensivas locais ao longo de vários eixos para fortalecer o sucesso da campanha de inverno”. , melhorar a situação operacional, tomar a iniciativa estratégica e interromper os preparativos alemães para uma nova ofensiva de verão.” Esta foi uma abordagem estratégica ambígua e aberta que deu a Timoshenko carta branca para ir all-in no ataque. Marechal Alexander Vasilevsky, Chefe do Estado-Maior de Stalin, mais tarde lembraria com pesar que a decisão “de defender e atacar simultaneamente acabou sendo o aspecto mais vulnerável do plano”.


Timoshenko era amável, leal e trabalhador - mas faltava-lhe o talento e a determinação para liderar com sucesso as principais operações

Moscou nunca havia sido o objetivo estratégico alemão em 1942. Confrontado com a perspectiva de uma guerra global contra os anglo-americanos *e* a União Soviética, o planejamento alemão para 1942 estava fortemente preocupado em adquirir acesso às matérias-primas, especialmente petróleo, que permitiria à Alemanha travar uma guerra global prolongada. A peça central dos esforços da Alemanha para o ano seria o Caso Azul: uma poderosa ofensiva ao sudeste para capturar os campos de petróleo soviéticos no Cáucaso. Ao longo do caminho para os campos de petróleo, a Wehrmacht esperava prender, cercar e destruir todas as forças do Exército Vermelho a oeste do rio Volga.

Ao contrário da Operação Barbarossa, que tinha pretensões de vencer a guerra em questão de semanas, a Blue foi convocada em reconhecimento ao fato de que uma guerra curta não estava mais sobre a mesa e que, para sobreviver a uma luta global prolongada, a Alemanha precisava de petróleo. “As operações de 1942 devem nos levar ao petróleo”, admitiu Keitel, chefe do alto comando das Forças Armadas. “A menos que consigamos isso, não poderemos conduzir nenhuma operação no próximo ano.” Um pensamento preocupante - especialmente para um exército alemão que viveu e morreu com base em sua capacidade de travar uma guerra móvel.

Na primavera de 1942, entretanto, o que mais importava era que a Wehrmacht estava reunindo unidades no sul em preparação para o Blue. A ofensiva de Timoshenko em Kharkov, portanto, girou diretamente para o setor da frente onde os alemães preparavam unidades para uma ofensiva própria.

A sincronicidade dos planos operacionais foi notável. Não apenas os dois exércitos estavam se preparando para uma ofensiva no sul, mas ambos haviam escolhido especificamente o saliente de Izyum como o setor específico para começar. Timosheno planejou lançar seus exércitos para fora do saliente, envolver e capturar Kharkov e, em seguida, levar os alemães de volta ao Dnieper. Os alemães, simultaneamente, estavam planejando a Operação Fredericus - um movimento de pinça bastante didático para cortar o saliente de Izyum e prender os exércitos soviéticos lá dentro.


Abril de 1942 Linha de Frente com Planos Operacionais para o Izyum 


No entanto, as coincidências foram ainda mais profundas do que os exércitos simplesmente mirando nas mesmas seções da frente. As datas de início dessas duas operações foram planejadas com apenas seis dias de intervalo - Timoshenko planejado para 12 de maio e a Wehrmacht para 18 de maio. Ainda mais notável, as unidades mais poderosas na ordem de batalha de cada exército para essas operações foram o 6º Exército. . A ponta de lança do ataque soviético seria o 6º Exército sob o comando do general Gorodniansky, e estava alinhado diretamente em frente ao 6º Exército alemão sob o comando do general Friedrich Paulus.

Em 8 de maio, o marechal de campo Bock - o novo comandante do Grupo de Exércitos Sul - especulou que "os russos podem chegar antes de nós e atacar em ambos os lados de Kharkov". Hitler, no entanto, achou isso uma tolice: “forças alemãs tão fortes estão agora em processo de montagem que o inimigo certamente saberá disso e terá cuidado para não nos atacar lá”. Timoshenko, no entanto, não estava ciente e, portanto, caiu em uma colossal armadilha operacional.On May 8, Field Marshal Bock - the new commander of Army Group South - speculated that “the Russians might beat us to it and attack on both sides of Kharkov.” Hitler, however, thought this was silly: “such strong German forces are now in the process of assembly that the enemy is bound to be aware of this and will be careful not to attack us there.” Timoshenko, however, was not aware, and so blundered into a colossal operational trap.

A Batalha de Kharkov de 1942 foi uma coisa curiosa. Terminou em um desastre absoluto para o Exército Vermelho - um resultado que geralmente levou tudo a ser descartado como outra virada dolorosa e irremediável na longa curva de aprendizado soviética. No entanto, o desastre que se desenrolou em Kharkov deveu-se à supremacia alemã no nível operacional. No nível tático, o Exército Vermelho demonstrou que havia crescido aos trancos e barrancos desde junho de 1941 e estava no caminho de um método eficaz de guerra ofensiva.

Em 10 de janeiro de 1942, o marechal Zhukov emitiu a Diretiva Stavka nº 03. Essa ordem, embora fácil de passar despercebida em meio ao drama geral das batalhas de inverno em torno de Moscou, na verdade sinalizou uma grande revisão das práticas operacionais soviéticas e um retorno aos conceitos familiares pré-guerra de Tukhachevsky. A diretiva nº 03 ressuscitou o “grupo de choque” como a principal unidade de violação e instruiu que as unidades de ataque devem concentrar suas forças em frentes muito estreitas. A frente de ataque regulamentar para um exército era de apenas 15 quilômetros. Além disso, a composição dos grupos de choque foi um afastamento das unidades de infantaria em massa usadas pelos soviéticos em 1941 e apresentava grandes concentrações de tanques, artilharia e aeronaves de apoio terrestre.

De acordo com essa doutrina emergente de operações de armas combinadas altamente concentradas, a operação de Timoshenko em Kharkov concentrou grandes grupos de choque com enorme apoio de fogo - em alguns setores, até oitenta peças de artilharia por quilômetro. Quando a artilharia de abertura e a barragem aérea começaram em 12 de maio, o Exército Vermelho alcançou a surpresa tática total. A impressão inicial dos defensores alemães nos postos da linha de frente, com certeza, foi que os grupos de choque faziam jus ao seu nome. O Exército Vermelho nunca havia atingido com tanta força - uma verdadeira tempestade de fogo precipitou a aproximação das unidades terrestres. No setor sul, o grupo de choque atacando da saliência de Izyum abriu um enorme buraco nas linhas alemãs e tornou a 294ª divisão alemã quase completamente incapaz de combater no primeiro dia.




O Exército Vermelho mostrou proficiência em armas combinadas amplamente aprimorada em 1942

No nível tático, esse Exército Vermelho era tão diferente de seu eu de 1941 quanto a noite é do dia. O ataque foi muito mais concentrado, muito melhor apoiado por artilharia e recursos aéreos e composto por uma mistura muito melhor de infantaria e blindados do que qualquer coisa que os alemães enfrentaram no ano anterior. O grupo de choque provou ser capaz de abrir buracos nas defesas alemãs - a questão agora era como transformar isso em um sucesso operacional.

As 3 fases da batalha de Kharkov

Uma lição sobre a guerra nessa escala que é claramente ensinada pela experiência dos dois exércitos em Kharkov é a natureza geralmente confusa e incompleta da inteligência em tempo real e a possibilidade de ambos os lados estarem em algum estado de pânico simultaneamente. Do lado soviético, Timoshenko deve estar satisfeito com seu progresso inicial. No terceiro dia, sua pinça do norte estava a apenas dezesseis quilômetros dos arredores de Kharkov. Mas algumas coisas não estavam certas. Perturbadoramente, havia divisões panzer observadas vagando nos flancos que não deveriam estar lá, e os alemães estavam se movendo em reforços que não eram esperados (isso ocorre porque a Wehrmacht estava concentrando forças para sua própria ofensiva e, portanto, tinha reservas inesperadas próximas). à mão). Enquanto Timoshenko hesitava, intrigado com as inesperadas forças alemãs, Bock estava no quartel-general do Grupo de Exércitos Alemão Sul tentando desesperadamente galvanizar uma resposta de Hitler e do alto comando. Em 15 de maio, o mapa da situação era tal que ninguém estava realmente confortável.




Em um estado tão instável, a vantagem fluiu para o lado com calma, élan e determinação para assumir o controle. A doutrina soviética preparou a base cognitiva para lidar com tal situação - era hora de enviar o segundo escalão. Timoshenko tinha exatamente esse escalão, composto por dois corpos de tanques, que deveriam ter sido inseridos prontamente (provavelmente começando no início de 14 de maio) para revigorar o avanço soviético diante das forças alemãs e dar novo poder de combate para empurrar as pinças soviéticas fechado.

Infelizmente, Timoshenko hesitou diante da incerteza agora presente em seus mapas de situação, e isso garantiu que o segundo escalão não chegasse a tempo. O grupo de choque inicial havia empurrado a linha de frente por meio de ação cinética, o que significava que o segundo escalão precisava percorrer estradas que já estavam marcadas pela batalha (repletas de escombros e buracos de projéteis) para alcançar a linha de combate real. O atraso envolvido em realmente levar o segundo escalão para a frente significava que eles precisavam ser ordenados a avançar prontamente, se não preventivamente. A hesitação provou ser fatal. O relatório do Estado-Maior Soviético concluiria mais tarde:

No final de 14 de maio, o corpo de tanques de segundo escalão (com 260 tanques) e as divisões de rifles estavam muito longe da linha de frente. O 21º Corpo de Tanques do General Kuzmin estava a quarenta e dois quilômetros das unidades avançadas do 6º Exército; O 23º Corpo de Tanques do General Pushkin estava a vinte quilômetros de distância, e as 248ª e 103ª Divisões de Fuzileiros, que compreendiam o segundo escalão do 6º Exército, estavam de vinte a quarenta quilômetros de distância. Tal separação das forças do segundo escalão e das forças do escalão para o desenvolvimento do sucesso dificultou seu compromisso oportuno na batalha, que foi ditado com urgência pela situação.

Enquanto Timoshenko hesitava, os alemães agiam

O cerne da questão era bastante direto. A Operação Fredericus planejou originalmente atacar a base do saliente de Izyum com um movimento de pinça e prender as tropas soviéticas lá dentro. Ao atacar a partir da saliência, os soviéticos teoricamente tornaram isso mais fácil (já que, ao atacar para o oeste, eles estavam afastando as forças do alvo alemão na base da protuberância). No entanto, Fredericus não pôde ser decretado como planejado porque o ataque soviético atingiu a força que pretendia formar a pinça do norte (6º Exército alemão). A solução para esse problema operacional foi enviar reforços ao local para fornecer um pacote de ataque adequado para lançar o Fredericus.

Aqui, então, a enorme importância da determinação alemã e da rápida tomada de decisões tornou-se aparente. Enquanto Timoshenko hesitava sobre onde, quando e como comprometer seu segundo escalão, o Whermacht trouxe uma onda de poder de combate para a cena. Unidades já haviam se reunido no sul para Case Blue, e uma grande quantidade delas agora foi levada para o eixo de Kharkov - a 24ª divisão Panzer foi a primeira a chegar, seguida por divisões de infantaria de reforço. Talvez ainda mais importante, o 8º Fliegerkorps (Air Corps) estava em rota: uma poderosa formação da Luftwaffe que elevou a força das aeronaves alemãs na área para quase 600 aviões. Este foi um grande aumento no poder de combate, e Fredericus recebeu luz verde para começar em 17 de maio.


Os alemães enviaram meios aéreos para Kharkov em reação ao ataque soviético

Quando esse dia chegou, a enorme massa de combate de Timoshenko ainda avançava para o oeste, aplicando uma punição severa às unidades que a Alemanha havia colocado em seu caminho. Esta não foi uma experiência confortável para a Wehrmacht. O grupo de ataque soviético era uma força imensamente poderosa que integrou suas armas com muito mais eficiência do que o Exército Vermelho de 1941. Este agrupamento soviético tinha um problema, porém: os alemães tinham grandes forças agora reunidas ao sul e nordeste, firmemente em sua retaguarda, preparadas para lançar Fredericus.

No final do dia 17, o 1º Exército Panzer sob o comando do General Kleist lançou suas linhas de partida ao redor da cidade de Slavyansk e abriu um enorme buraco no flanco sul do Exército Vermelho, protegendo o “pescoço” da saliência. Todas as forças soviéticas que então atacavam para o oeste enfrentariam a aniquilação iminente se não interrompessem imediatamente o ataque e recuassem para Izyum. Aqui, novamente, Timoshenko se mostrou indeciso em um momento crítico. Em vez de ordenar uma retirada, ele na verdade enviou reservas adicionais para reforçar seu ataque (um gesto inútil neste momento), e foi somente no dia 19 que ele aprovou uma retirada de suas unidades da linha de frente. A essa altura já era tarde demais.




A derrocada que se seguiu resumiu grande parte dessa guerra - élan alemão, dificuldades de comando e controle soviéticos e crueldade caprichosa. Em 21 de maio, a "abertura" do saliente de Izyum havia sido reduzida para apenas 13 quilômetros de largura pelas pinças alemãs. Um punhado de pontes sobre o rio Donets nesta estreita lacuna agora representava a única linha de comunicação, abastecimento ou retirada para as enormes forças soviéticas no bolsão. Enquanto os alemães atacavam essas pontes e as capturavam, um enorme engarrafamento começava a oeste. A ordem de retirada de Timoshenko foi enviada para as unidades na vanguarda do ataque - 6º Exército e Grupo de Exércitos Bobkin. Sua segunda onda, composta por seus dois Corpos de Tanques, ainda se movia para o oeste para reforçar o ataque - de alguma forma, essas unidades não haviam recebido a ordem de retirada. Em 21 de maio, quando os alemães fecharam o pescoço do bolso, o 1º escalão em retirada de Timoshenko colidiu com seu avanço no 2º escalão - um engarrafamento dentro de um cerco.

Os alemães demoraram uma semana para liquidar as forças soviéticas no bolsão, que afinal eram enormes e continuaram a lutar o melhor que puderam. As perdas do Exército Vermelho acabaram sendo enormes. A totalidade do 6º e 57º Exércitos, Grupo de Exércitos Bobkin e o 21º e 23º corpo de tanques foram eliminados dentro do bolsão, e o 9º Exército (a infeliz unidade que defendia a entrada do bojo) foi gravemente atacado. Ao todo, quase 280.000 homens foram perdidos, junto com impressionantes 1.200 tanques e vários milhares de peças de artilharia.



A autópsia em Kharkov, 1942, é bastante interessante. É muito fácil colocar toda a culpa em Timoshenko, que via de regra era indeciso e conduzia mal a operação de maneiras óbvias. Timoshenko estava, com certeza, perdido. A catástrofe em Kharkov parece ter despertado Stalin para esta realidade, e Timoshenko foi removido do comando de campo - mas por ser um dos favoritos de Stalin, ele recebeu um posto simbólico de alto comando (uma espécie de promoção a uma posição onde ele poderia fazer pouco dano) ao invés de ser baleado.

Uma coisa é dizer que Timoshenko estragou a operação de Kharkov e contribuiu para um desastre. Mas a natureza particular desse desastre não foi em grande parte culpa de Timoshenko - ao contrário, foi predita pela interação particular do pensamento operacional soviético e da disfunção de comando e controle do Exército Vermelho.

A ideia da Batalha Profunda era reunir escalões sequenciados em massa que pudessem atacar no mesmo eixo, conduzindo operações consecutivas para superar a tendência natural das ofensivas de culminar. Onde as ofensivas tradicionais perderiam força, o Exército Vermelho teria um segundo escalão preparado para manter o ataque, mantendo um ritmo de ataque e negando ao inimigo a chance de recuperar a iniciativa operacional.

Tempo, no entanto, requer... bem, tempo. Não uma indecisão vacilante e certamente não uma confusão de comando e controle que deixou os dois escalões colidindo um com o outro. No caso particular de Kharkov, a combinação da indecisão de Timoshenko, os rosnados de comando e controle soviéticos e o imperativo (tanto doutrinário quanto político) de continuar o ataque resultou em uma espécie de martelada sem sentido, alheio ao perigo que se aglomerava no pescoço do proeminente.Tempo, ou seja, requer muito tempo.

Para ser justo, o Exército Vermelho mostrou uma melhoria genuína desde 1941 no nível tático - como resultado, esse martelar sem sentido foi muito violento e imensamente prejudicial para as unidades alemãs do outro lado, mas a funcionalidade aprimorada do pacote mecanizado soviético não se traduziu em sucesso operacional - assim como a habilidade operacional alemã não pode se traduzir em vitória estratégica.

Acima de tudo, Kharkov foi uma vitória de Clausewitz. O grande teórico alemão do século 19 pensava na guerra como uma interação tripla entre cálculo racional, emoção violenta e chance aleatória - isto é, entre planejamento, agressão e sorte.

As noções soviéticas de batalha profunda e ataques escalonados baseavam-se na ideia de que ataques sustentados manteriam o ritmo ofensivo e negariam ao inimigo a chance de recuperar a iniciativa. Tudo muito bem, e em 1942 Timoshenko preparou um poderoso pacote de ataque multi-escalão e identificou um alvo operacional razoável. Isso é cálculo e planejamento racionais. O que faltava a Timoshenko - e o que a Wehrmacht tinha de sobra - era uma agressão sobrenatural e, nos dias críticos, enquanto Timoshenko timidamente deixava sua ofensiva definhar, os alemães estavam enviando divisões adicionais e recursos aéreos para o campo de batalha.

Milhares de soldados soviéticos foram capturados no bolsão em Kharkov

Ideias como ritmo, iniciativa e continuidade do ataque são úteis e podem formar conceitos ou objetivos valiosos. Podem até ser motivos pedagogicamente valiosos no contexto de uma instituição militar. No campo de batalha, entretanto, o ritmo e a iniciativa devem ser tomados e mantidos pela determinação e agressividade de todo o organismo combatente.

No final, Kharkov foi uma demonstração da enorme lacuna entre a doutrina e a vitória; entre o planejamento e o campo de batalha. A vitória, em última análise, depende não apenas de planejamento operacional material e sólido, mas também de um corpo de combate flexível e reativo que possa passar informações e ordens para cima e para baixo dentro de sua estrutura de comando de maneira oportuna. Tal exército está presente e em contato íntimo com a realidade no terreno, ao invés de operar inteiramente dentro do reino abstrato de planos e doutrinas. É por isso que Moltke, o maior de todos os comandantes alemães ao longo dos tempos, nunca gostou de planejar as operações além de um esboço geral - ele abominava a ideia de se apegar demais ao "plano", já que os eventos no terreno e as ações do inimigo sempre teve precedência.

Em Kharkov, o Exército Vermelho parecia ser um exército mantido cativo por sua própria doutrina e planos. Diante de uma situação em rápida mudança no terreno, com as forças alemãs se concentrando para um contra-ataque, Timoshenko hesitou um pouco antes de decidir enviar o 2º Escalão para continuar sua ofensiva, dobrando o ataque quando as circunstâncias o proibiam fortemente. Ele manteve o plano, até que fosse tarde demais.

O outro pé: Operação Marte


1942 foi, de qualquer forma, um pivô histórico mundial. No verão, a força de porta-aviões japonesa foi prejudicada na Batalha de Midway (um assunto para nossa futura série sobre guerra naval), que praticamente garantiu a vitória americana no Pacífico - a única esperança real de vitória do Japão era chocar os Estados Unidos, alcançando a supremacia do poder aéreo naval. 1942 também é geralmente entendido como o “ponto de virada” na Europa, dado que os primeiros seis meses foram marcados por vitórias alemãs significativas em Kharkov, na Crimeia e no norte da África, e o ano terminou com a derrota alemã em Stalingrado (o assunto de nosso próximo artigo). Embora eu tenha argumentado em meu artigo anterior que o verdadeiro “ponto de virada” da guerra, como tal, 1942 foi o ano em que a iniciativa estratégica passou firmemente do eixo para os aliados.

De muitas maneiras, a estrutura narrativa popular da Segunda Guerra Mundial falha em representar com precisão tanto as oportunidades quanto os riscos enfrentados pelas partes beligerantes. Mais especificamente, a Alemanha havia “perdido” a guerra muito antes do que a maioria das pessoas imagina – em setembro de 1941, não havia caminho militar razoável para uma vitória alemã sobre a União Soviética, muito menos sobre a monstruosamente poderosa aliança anglo-americana-soviética. Ao mesmo tempo, no entanto, destruir a Alemanha nazista e a Wehrmacht foi muito mais difícil e perigoso do que comumente se entende. Mesmo quando não tinha mais um caminho para sua própria vitória, a Wehrmacht tinha o poder de tornar sua derrota uma proposta cara. Para a União Soviética, por exemplo, o trimestre mais caro da guerra em termos de baixas totais foi o terceiro trimestre (julho - setembro) de 1943 - em um ponto em que o Exército Vermelho estava claramente vencendo. Mesmo encurralada em uma armadilha da qual não havia escapatória, a Wehrmacht era letal.

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