A questão não é só de gênero, é também de classe
Mulheres machistas, representantes parlamentares da burguesia e da direita, que são contra a igualdade salarial entre homens e mulheres. Deputadas ganham igual aos homens e votam contra que outras mulheres tenham mesmo direito |
Frederico Costa[1]
O que está sendo noticiado, no entanto, são os trinta e seis parlamentares da extrema direita que votaram contra o projeto, na última quinta-feira (4), dos quais dez são mulheres. A maioria desses defensores da superexploração do trabalho feminino são do Partido Liberal (PL) do neofascista Bolsonaro.
Essas dez deputadas que votaram contra as trabalhadoras expressam uma tendência do capitalismo periférico de aumentar a taxa de exploração para retardar a queda mundial das taxas de lucro. Representam, ao lado dos outros vinte e seis deputados, uma alternativa política para as classes dominantes diante da crise capitalista.
O Partido Novo orientou sua bancada a votar contra o texto. O deputado Gilson Marques (Novo-SC) disse que a Lei acabaria por “nivelar os salários por baixo”. Esse argumento é antigo e típico de nossas classes dominantes.
Deixo aqui uma citação interessante da obra do historiador Edgar Carone. Trata-se da posição de Morvan Figueiredo (1890-1950), industrial e dirigente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), contra a igualdade de salário entre homens e mulheres, de 1939. Tais ideias, muitas vezes, são reproduzidas, ainda hoje, em diversos ambientes, mesmo quando milhões de mulheres são chefes de família ou ganham mais que seus cônjuges.
[...] a “mulher... geralmente não ganha para manter o seu lar. Ganha para ajudar a melhorar as condições de vida desse lar, isto é, gasta o dinheiro “em vestuários, enfeites, diversões e passeios. Não contribuem para a manutenção do lar. Apenas trabalham para tornar possível maior conforto nele, porque o que o chefe de família teria de despender com elas é aplicado em melhor conforto e elas podem ter oportunidade de serem mais felizes, vestindo-se melhor e divertindo-se, sem pesar sobre o orçamento doméstico”. Diante da igualdade do salário, a oportunidade da mulher desaparece e “qual será então a situação do lar trabalhador sem essa ajuda?” O comércio e a indústria, enjeitando o encarecimento momentâneo da mão-de-obra, terão de despedir as mulheres, que deixarão de contribuir em casa e “ficarão privadas das roupas, enfeites e diversões a que já estão habituadas ou criarão uma situação de miséria em um lar antes confortável” (CARONE, 1977, p. 119).
Morvan Figueiredo, em 1946, foi nomeado ministro do Trabalho, Indústria e Comércio e Previdência Social no reacionário governo do general Eurico Gaspar Dutra. Por incrível que pareça, essa ideologia ainda está presente entre liberais, religiosos e na média do pensamento empresarial brasileiro. Vemos, então, uma conexão entre machismo e exploração capitalista.
Referências
CARONE, Edgar. O Estado Novo (1937-1945). São Paulo: Difel, 1977.
[1]
Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE e coordenador do Instituto
de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO.
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