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França, pela greve geral até a revogação da reforma previdenciária


"A França é o país que, mais do que qualquer outro, leva a luta de classes a seu ponto decisivo em cada momento de sua história" (Engels, Prefácio da terceira edição alemã do 18 Brumário de Marx, citado por Lenin em "O Que Fazer?").

Em 2019, a AFP noticiava o curioso fato de que 3 mil galinhas se juntam para matar raposa invasora na França. O incidente inusitado ocorreu na região francesa da Bretanha. A raposa entrou num galpão onde viviam cerca de 3 mil galinhas, através de uma portinhola automática, que se fechou logo depois de sua passagem. "As galinhas agiram levadas por um instinto de manada, e atacaram a raposa com bicadas", diz Pascal Daniel, diretor da escola agrícola Gros-Chêne. O corpo da raposa foi encontrado no dia seguinte, num canto do galpão. "Tinha marcas de bicos por toda parte, do pescoço para baixo", disse Daniel à agência francesa de notícias AFP.

A frase de Engels fora dita no contexto revolucionário de XIX que vai se desdobrar na Comuna de Paris, o primeiro governo operário da história. É evidente que as galinhas não são doutrinadas para respeitar as raposas, como os humanos respeitam as autoridades capitalistas que controlam nossa sociedade. Novamente a França é palco de lutas radicais contra o liberalismo ou o chamado ultraliberalismo e milhares de manifestantes estão nas ruas de Paris desde o dia 7 de fevereiro para protestar contra a reforma previdenciária que o governo de Emmanuel Macron quer impor sem sequer passar pelo voto dos deputados da Assembleia Nacional francesa. 

O governo Macron, por meio da primeira-ministra Elisabeth Borne, acionou um dispositivo especial para aumentar a idade mínima para aposentadoria de 62 para 64 anos. O artigo 49.3 da Constituição permite ao governo forçar a aprovação de um projeto de lei sem passar pela Assembleia Nacional.


Pronunciamento da deputada franco-marfinense Raquel Keke, do partido França Insubmissa. Raquel é ex-camareira de hotel, liderou uma longa greve de trabalhadores hoteleiros e agora se opõe a reforma previdenciária. 

A burguesia suprime a própria democracia burguesa para fazer como as raposas fazem com as galinhas quando têm oportunidade.

A derrota da contrarreforma previdenciária poderia fazer ruir a República francesa e em um momento convulsivo de guerra na Ucrânia, em que a França está sendo consumida pela derrota da OTAN, que pode desembocar em uma terceira guerra mundial, hiperinflação na Europa, desabastecimento e da maior quebra em cadeia de bancos desde a crise financeira de 2008, desencadeada como efeito bumerangue ao fato de que as sanções da OTAN não quebraram a economia russa.

O governo francês está investindo em massa na nova corrida armamentista contra a Rússia e a China para enriquecer ainda mais o grande capital imperialista. Macron anunciou a criação de um fundo de US$ 98 milhões (R$ 511 milhões) que permite à Ucrânia comprar diretamente ajuda militar de fabricantes franceses.

Mas, em entrevista à TV francesa, a primeira-ministra usou a velha demagogia cretina, disse que não é mais possível financiar o sistema previdenciário francês com débitos e que "alguns grupos querem o caos e é o francês humilde que paga pelas consequências", assim como usam uma suposta "ajuda humanitária" à população ucraniana como desculpa para financiar sua nova corrida armamentista.
No dia 7 de março, as manifestações pela retirada da contra-reforma previdenciária foram ainda mais massivas. Quase 3 milhões de trabalhadores marcharam pela França.

O governo Macron não recua um centímetro porque não se sente ameaçado pela continuidade da sucessão de dias de ação e acredita que, em última instância, pode "parlamentarizar a luta", com o apoio das burocracias sindicais e os partidos da esquerda reformista que chamaram a votar em Macron contra Le Penn (ver posição do CLQI na época: Eleições francesas – O Estrangulador vs O Assassino do Machado), negociar a divisão do custo político da medida com o parlamento, onde vozes como a de Raquel Keke, como em todo parlamento burguês do mundo, são minoritárias.

Há também uma possibilidade da direita explorar a seu favor a crise e realizar um referendo, agora defendido por Le Pen e Zemmour. Os referendos para encerrar a luta popular historicamente serviram à reação, para engabelar a luta popular. Em 1850, um referendo foi usado por Louis Bonaparte para sufocar as liberdades democráticas. Em 1934, o referendo foi um dos slogans das ligas fascistas contra o regime parlamentar. Em 1958, foi usado pelo General de Gaulle para ratificar um golpe militar em 1958.

Por isso, acreditamos que os trabalhadores franceses, que hoje dão exemplo para a Europa e para o mundo, devem seguir sua luta em favor de uma greve geral por tempo indeterminado até que o projeto de contra-reforma previdenciária seja integralmente revogado.

A derrubada da contrarreforma pela pressão de uma greve geral poderia resultar na aprovação de uma moção de desconfiança contra o governo em 24 horas que rejeitaria a implementação da lei e forçaria a dissolução do Congresso e a convocação de eleições antecipadas.

Mas, o que pode garantir a greve geral é a construção de comitês de ação contra Macron, seu regime, sua inflação, sua guerra e suas medidas ultraliberais nos locais de trabalho, estudo e moradia, comitês organizados para assumirem as manifestações e conduzirem a nova rebelião francesa ao triunfo.

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