A luta contra o Fascismo é parteira do Socialismo

João Bourscheid, PCPB

Algumas organizações de esquerda utilizam o termo neofascismo para designar o momento político de extrema direita que vem tomando conta da atualidade de crise extrema no mundo capitalista. O que se quer dizer com o neofascismo: que ele é novo? Em quê? Marx, quando utiliza as palavras de Hegel em relação aos grandes acontecimentos no mundo, em que dizia que eles aconteciam por duas vezes na história, Marx completou: “o primeiro acontecimento é como tragédia, o segundo, como farsa”. Portanto, ao considerarmos o atual fascismo no mundo como uma segunda aparição mundial, é preciso considerá-lo como farsa, visto que a primeira aparição foi como tragédia, e isso ninguém duvida. Mas, em princípio, considerar o fascismo como farsa é subestimar toda a força que ele tem, de colocar em movimento tudo o que tem de atrasado na tentativa de evitar o novo, isto é, o socialismo. Na farsa, no entanto, não significa que não haverá caos, mortes, sacrifícios gigantescos para o proletariado tomar as rédeas da burguesia fascista e desencadear a revolução. Mas é farsa no sentido de que o ser humano já conhece seus movimentos, sabe o que é, que classe representa, e o mais importante, não tem nada de novo, são representantes de todo o preconceito burguês do grande capital contra a luta do proletariado. 

A ideia de neofascismo também pode representar muito bem aquilo que defendemos em nosso programa de partido, que o fascismo se tornou algo institucional do imperialismo, principalmente dos EUA no comando da OTAN. Portanto, o fascismo aplicado conscientemente na sociedade, buscando desviar o proletariado do caminho revolucionário. Os golpes, as guerras híbridas, o armamento de milícias e, inclusive, eleições de elementos de extrema direita são mecanismos do fascismo institucionalizado. O caos maior ou menor faz parte da política dos países imperialistas de tomar as rédeas de alguns países subordinados que ousaram à esquerda, quando começam a fugir do controle ou ainda quando é preciso aprofundar o roubo da mais valia, além das matérias primas, territórios e bens construídos (tecnologias). Mas quando a crise torna-se crônica no centro do imperialismo, não há lugar no planeta em que a catástrofe não ocorra, como nos próprios EUA. Nesse momento a perspectiva econômica do imperialismo é não dar perspectiva política para o proletariado, e a ideia é sob todas as forças gerar um caos externo, evitando o caos político interno. Ora, sempre a burguesia, seja no início do modo de produção capitalista ou na fase imperialista, ela é um feiticeiro que perde o controle do seu feitiço. A guerra é também para a retomada de controle do feitiço. Um exemplo: Os EUA devem trilhões de dólares para a dívida que eles mesmo criaram. A cada ano, aumenta muito mais. O calote seria um caos, mas em uma guerra, o calote pode ser a forma de controle do feitiço. Mas a guerra tem que ser distante de seu país, para controlar o feitiço à distância. Se a guerra os atingem internamente, a possibilidade do controle sair de suas mãos é uma realidade. Na atual guerra OTAN x Rússia, o fascismo segue a mesma disposição da crise de antes e depois de 1929, isto é, distante dos EUA.

O fascismo, no entanto, do ponto de vista da gênese e das perspectivas que ele representa politicamente, não pode ser chamado de neo, pois ele continua a representar a verdadeira essência que ele é: o único partido político verdadeiramente burguês na época imperialista. Desviar o proletariado e as massas do caminho revolucionário e socialista, com ares de negação do que existe na institucionalidade burguesa, é seu objetivo principal. Desde que o socialismo foi vitorioso, que as teses marxistas ganharam força subjetiva na consciência operária, a burguesia teve que, de fato, construir mundialmente um partido político, com bases militares, econômicas e financeiras em todos os lugares. Esse é o verdadeiro fascismo que atua em épocas pacíficas de mãos dadas com a democracia burguesa, o poder ideal para o Capital. Mas eles servem realmente para as épocas de crise, onde a necessidade de a ditadura capitalista aparecer como ela é, sem o véu “democrático”, onde o apoio de todos os grandes capitalistas é incontestável em suas ações antipopulares e de terror às organizações revolucionárias. O ataque nesse momento aos países socialistas torna-se aberto e a liquidação deles é uma necessidade. Esse fascismo continua vivo, com o mesmo referencial que aquele criado no pós primeira guerra mundial, por Mussolini, isto é, uma farsa ou aparente terceira via, com pretexto a desviar as massas do caminho bolchevique, mantendo logicamente a continuidade burguesa imperialista. Esse caminho só se realiza quando o proletariado ainda não preparou completamente a sua organização de vanguarda, tanto do ponto de vista subjetivo (teoria e organização) e objetivo (fundido às massas), caindo no canto da sereia e troca a revolução pela democracia burguesa (universal).

Não é difícil de determinar que esse jogo entre o fascismo e a democracia burguesa “antifascista” é coordenado conscientemente pelo imperialismo. Assim como o proletariado usa a política para neutralizar determinadas forças em sua ação, fazendo com que elas  atuem benignamente, a burguesia busca atrair setores de oposição, progressistas, democratas e da esquerda institucional para o jogo da democracia universal, diante do setor mais decidido na luta contra o fascismo para transformá-la em revolução, isto é, os comunistas. Por isso o fascismo tornou-se uma força consciente e institucional do imperialismo, tomando proporções maiores ou menores, dependendo do grau ideológico dos envolvidos na luta de classes em cada país, da força organizada do proletariado, do limite que o imperialismo quer dar para determinada ação, isto é, quando intervirá para pôr fim a um processo e começar outro. A ideia é deixar o proletariado sempre amarrado em duas determinações, isto é, à democracia burguesa (universal) ou o fascismo. Porém, se o próprio imperialismo está profundamente desorganizado por conta da crise, das lutas internas da sua burguesia, o fascismo crescente no mundo é tão inevitável quanto a revolução.  O próprio imperialismo divide as perspectivas de evitar o mal pior, com as burguesias de outros países.

No entanto, se os comunistas não continuarem a forçar a sua propaganda em prol de uma política independente, não vão cooptar ninguém e muito menos neutralizar outros, e o pior, não vão ser reconhecidos pelo setor de vanguarda como diferente dos demais. Baixar a guarda ao nível da democracia burguesa, significa ficar de mãos vazias, sem ferramenta alguma para lutar. Usar as ferramentas do inimigo (democracia burguesa) contra ela, em política não é possível, primeiro, que o outro lado é muito mais forte, segundo, que terá que abandonar a suas ferramentas de luta, as quais são antagônicas a toda burguesia (fascista e não fascista). Por fim, quando se der conta, não terá mais nada. A conciliação sempre tem lado contra o proletariado, tal qual a Frente Ampla. Ela existe não com o intuito de que o proletariado está no comando e ganha/ ou neutraliza outras forças, mas para rebaixar, desviar, fundir, confundir, e, por fim, perder completamente o comando.

Apoiamos Lula por dois motivos. Primeiro, como ele sendo o único capaz de derrotar Bolsonaro do ponto de vista eleitoral, e, por pouco, pela subestimação da força do fascismo e do bolsonarismo a esquerda institucional não colocou tudo a perder. Segundo, como forma para criar problema para a burguesia nos setores cruciais do Estado e da produção. As mudanças nas Forças Armadas, no monopólio da mídia e no setor judiciário golpista, são tão necessárias e objetivas para darmos um passo a diante, como a reforma agrária contra o poder do agro, fim das privatizações de energia, e um salário mínimo forte são mecanismos de luta que põem em ação o proletariado. Para tais objetivos só é possível dar os passos iniciais, com ampla mobilização popular, o povo na rua e a sua futura organização. Sem povo na rua, perde-se o principal poder que pode dar força à luta no rumo das transformações. Lula fala em mudar o Brasil para os próximos 30 anos, porém só o povo na rua mobilizado e organizado poderá refletir na atual e nas futuras conjunturas, com os objetivos de mudança. Deixar o povo de fora dessa luta é apostar na esquerda e contemplar a direita, de falar em transformação sem ferir a institucionalidade burguesa, de gritar contra a anistia sem quebrar com as chocadeiras do fascismo. Em outras palavras, é mudança para “inglês ver”.

Abaixo o Fascismo.

Por um projeto político Soberano e Socialista para o Brasil.

Povo mobilizado e organizado nas ruas para a luta avançar.