Benedito Meia Légua, revolucionário abolicionista
Uma história de política, fé, luta contra a escravidão, contra o racismo, uma história tão forte que também se incorporou ao nosso vocabulário de expressões populares. Trata-se da expressão popular “Será o Benedito?”
Fala-se assim para expressar contrariedade, surpresa, perplexidade diante de acontecimentos que ninguém espera que aconteça, ou seja, frente a acontecimentos inesperados.
Muitos enganos são praticados ao explicar a origem dessa expressão, na rádio Band News, na revista Superinteressante, os escritores Mário Prata e Mário Sergio Cortella e outros escritores contam mais ou menos a mesma história. Uns copiam os outros e todos se enganam.
Quase todos dizem que a origem da expressão é de dezembro de 1933, quando o então presidente Getúlio Vargas cogitou indicar para governador de Minas Gerais o nome do jornalista Benedito Valadares, que era um homem muito, mas muito mesmo, inculto, ignorante, não chegava a ser fascista mas era um Bolsonaro da época. Dizem que as pessoas usavam a expressão “Será o Benedito?” para demonstrar sua contrariedade quando Getúlio cogitou nomear Valadares governador de Minas Gerais. Esse Benedito foi então nomeado, se tornou governador e há até uma cidade em Minas que se chama Governador Valadares, fundada em 1938 em homenagem a ele enquanto ele era governador na época.
Mas, a origem da expressão “Será o Benedito?” não vem daí, é anterior a essa situação, como o comprovou o professor da USP, Jean Lauand, estudioso da origem das gírias e expressões populares brasileiras, essa expressão já era usada antes da história do governador, em marchinhas de carnaval, na história do futebol [1].
De fato, tudo leva a crer que essa expressão nasce no século anterior, na luta contra a escravidão, na revolução abolicionista que ocorreu em 1888.
Acreditamos que a história da expressão “Será o Benedito?” vem da história de Benedito Meia-Légua (1805 - 1885), um escravo que se libertou e virou líder quilombola que assombrou os escravagistas.
As classes dominantes sempre tentaram apagar e diminuir as histórias de lutas do povo, principalmente quando as lutas eram vitoriosas. A história dos quilombos sempre assombrou as classes dominantes e aí também a gente entende porque no apagamento da rica história de luta dos quilombos pretende-se confundir sobre o surgimento dessa expressão popular. Por isso, a mídia, as rádios da burguesia, as revistas da burguesia, os escritores da burguesia tratam de escrever uma história bonitinha para colocar por cima da história de libertação do povo brasileiro.
O verdadeiro nome do Benedito Meia Légua era Benedito Caravelas que nasceu na Villa Nova do Rio de Sam Matheus, no Estado do Espírito Santo. Essa Vila que hoje é uma cidade está entre as 8 cidades mais antigas de todas as cidades do Brasil. E olha que o Brasil tem 5.568 cidades.
O apelido Meia-Légua veio de suas várias viagens ao nordeste. Suas qualidades de líder, sua coragem e sua astúcia transformaram-no em símbolo de esperança de libertação para os escravos.
Se Zumbi foi o líder dos primeiros quilombos que existiram, foi o herói do quilombo dos Palmares, em Alagoas, no século XVII. Meia Légua, que viveu no século XIX, foi uma lenda de seu tempo e lutou pela derrota final da escravidão.
Fala-se assim para expressar contrariedade, surpresa, perplexidade diante de acontecimentos que ninguém espera que aconteça, ou seja, frente a acontecimentos inesperados.
Muitos enganos são praticados ao explicar a origem dessa expressão, na rádio Band News, na revista Superinteressante, os escritores Mário Prata e Mário Sergio Cortella e outros escritores contam mais ou menos a mesma história. Uns copiam os outros e todos se enganam.
Quase todos dizem que a origem da expressão é de dezembro de 1933, quando o então presidente Getúlio Vargas cogitou indicar para governador de Minas Gerais o nome do jornalista Benedito Valadares, que era um homem muito, mas muito mesmo, inculto, ignorante, não chegava a ser fascista mas era um Bolsonaro da época. Dizem que as pessoas usavam a expressão “Será o Benedito?” para demonstrar sua contrariedade quando Getúlio cogitou nomear Valadares governador de Minas Gerais. Esse Benedito foi então nomeado, se tornou governador e há até uma cidade em Minas que se chama Governador Valadares, fundada em 1938 em homenagem a ele enquanto ele era governador na época.
Mas, a origem da expressão “Será o Benedito?” não vem daí, é anterior a essa situação, como o comprovou o professor da USP, Jean Lauand, estudioso da origem das gírias e expressões populares brasileiras, essa expressão já era usada antes da história do governador, em marchinhas de carnaval, na história do futebol [1].
De fato, tudo leva a crer que essa expressão nasce no século anterior, na luta contra a escravidão, na revolução abolicionista que ocorreu em 1888.
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Acreditamos que a história da expressão “Será o Benedito?” vem da história de Benedito Meia-Légua (1805 - 1885), um escravo que se libertou e virou líder quilombola que assombrou os escravagistas.
As classes dominantes sempre tentaram apagar e diminuir as histórias de lutas do povo, principalmente quando as lutas eram vitoriosas. A história dos quilombos sempre assombrou as classes dominantes e aí também a gente entende porque no apagamento da rica história de luta dos quilombos pretende-se confundir sobre o surgimento dessa expressão popular. Por isso, a mídia, as rádios da burguesia, as revistas da burguesia, os escritores da burguesia tratam de escrever uma história bonitinha para colocar por cima da história de libertação do povo brasileiro.
O verdadeiro nome do Benedito Meia Légua era Benedito Caravelas que nasceu na Villa Nova do Rio de Sam Matheus, no Estado do Espírito Santo. Essa Vila que hoje é uma cidade está entre as 8 cidades mais antigas de todas as cidades do Brasil. E olha que o Brasil tem 5.568 cidades.
O apelido Meia-Légua veio de suas várias viagens ao nordeste. Suas qualidades de líder, sua coragem e sua astúcia transformaram-no em símbolo de esperança de libertação para os escravos.
Se Zumbi foi o líder dos primeiros quilombos que existiram, foi o herói do quilombo dos Palmares, em Alagoas, no século XVII. Meia Légua, que viveu no século XIX, foi uma lenda de seu tempo e lutou pela derrota final da escravidão.
Ele reunia grupos de negros insurgentes e tocava o terror nos fazendeiros escravagistas da região, invadindo as Senzalas, libertando outros negros, saqueando, criando comunidades livres e dando verdadeiros prejuízos aos racistas.
Contam que ele era um estrategista ousado e criativo, criava grupos pequenos para evitar grandes capturas e atacavam fazendas diferentes simultaneamente. A genialidade do plano era que o líder de cada grupo se vestia exatamente como ele Benedito se vestia.
Sempre que um tinha o infortúnio de ser capturado, Benedito reaparecia em outras rebeliões. Os fazendeiros passaram a crer que ele era imortal. E sempre que haviam notícias de escravos se rebelando vinha a pergunta "Mas será o Benedito?"
O mito ganhou mais força após uma das vezes que ele foi capturado. Benedito chegou a São Mateus (ES), cidade onde ele nasceu, amarrado pelo pescoço, sendo arrastado por um capitão do mato montado a cavalo. Foi dado como morto e levado ao cemitério dos escravos, na igreja de São Benedito.
Os negros que foram presos junto a ele ficaram de fora da igreja rezando. No outro dia, quando entraram na igreja, não encontraram mais o corpo, mas apenas as pegadas com marcas de sangue. A partir daí surgiu a lenda de que Meia-Légua era protegido de São Benedito, pois além dessa situação ocorrer na Igreja de São Benedito, do nome dele ser Benedito, ele era sempre visto com uma pequena imagem de São Benedito em um embornal. Embornal ou bornal é saco usado para pôr a comida dos cavalos e que as vezes é preso em redor da boca do animal.
Por mais de 40 anos Benedito e seu Quilombo, mais do que resistiram, eles golpearam o sistema escravocrata em uma história de muitas vitórias, de libertação de centenas de trabalhadores escravizados.
O bando de Benedito Meia-Légua saía sempre em pequenos grupos, sendo que cada grupo tinha um líder que mantinha sempre as características suas, a fim de confundir os perseguidores. Com tal artifício, Meia-Légua e seus companheiros conseguiram se manter por tantas décadas, de 1845 a 1885, apesar de estarem sempre sendo perseguidos. Quando era noticiada sua morte, ele reaparecia em outra fazendo um novo ataque libertador. E assim o mito de que Benedito era imortal se espalhou e a cada novo ataque, as pessoas perguntavam “Será o Benedito?.”
Vale lembrar que a vida média de um negro escravizado naquela época era de só 20 anos. Muitos morriam logo depois da alforria, porque a vida de escravo era tão penosa, tão sofrida que a saúde das pessoas ficava muito frágil.
Mas, Benedito só morreu muito velho, aos 80 anos, ou seja, ele como revolucionário da abolição, mesmo perseguido, viveu 4 vezes mais que a maioria dos trabalhadores da época e viveu até o dobro da idade de Zumbi, que foi morto aos 40 anos. E ele só morreu por uma covardia que foi feita contra ele quando já estava doente e mancando de uma perna. E só encontraram ele por ter sido traído por um caçador, que denunciou o esconderijo dele para as tropas que viviam querendo pegá-lo.
Ele se escondia e vivia em um tronco oco de uma árvore, onde sempre ele dormia. Aqueles que o perseguiam montaram tocaia em volta do tronco e ali ficaram até a noite, esperando que ele se recolhesse para dormir. Os covardes não tiveram coragem de enfrenta-lo de dia, mesmo eles estando em maioria, mais armados e serem todos mais jovens. Quando Benedito entrou no tronco, eles taparam as saídas tocaram fogo.
Contam que ele era um estrategista ousado e criativo, criava grupos pequenos para evitar grandes capturas e atacavam fazendas diferentes simultaneamente. A genialidade do plano era que o líder de cada grupo se vestia exatamente como ele Benedito se vestia.
Sempre que um tinha o infortúnio de ser capturado, Benedito reaparecia em outras rebeliões. Os fazendeiros passaram a crer que ele era imortal. E sempre que haviam notícias de escravos se rebelando vinha a pergunta "Mas será o Benedito?"
O mito ganhou mais força após uma das vezes que ele foi capturado. Benedito chegou a São Mateus (ES), cidade onde ele nasceu, amarrado pelo pescoço, sendo arrastado por um capitão do mato montado a cavalo. Foi dado como morto e levado ao cemitério dos escravos, na igreja de São Benedito.
Os negros que foram presos junto a ele ficaram de fora da igreja rezando. No outro dia, quando entraram na igreja, não encontraram mais o corpo, mas apenas as pegadas com marcas de sangue. A partir daí surgiu a lenda de que Meia-Légua era protegido de São Benedito, pois além dessa situação ocorrer na Igreja de São Benedito, do nome dele ser Benedito, ele era sempre visto com uma pequena imagem de São Benedito em um embornal. Embornal ou bornal é saco usado para pôr a comida dos cavalos e que as vezes é preso em redor da boca do animal.
Por mais de 40 anos Benedito e seu Quilombo, mais do que resistiram, eles golpearam o sistema escravocrata em uma história de muitas vitórias, de libertação de centenas de trabalhadores escravizados.
O bando de Benedito Meia-Légua saía sempre em pequenos grupos, sendo que cada grupo tinha um líder que mantinha sempre as características suas, a fim de confundir os perseguidores. Com tal artifício, Meia-Légua e seus companheiros conseguiram se manter por tantas décadas, de 1845 a 1885, apesar de estarem sempre sendo perseguidos. Quando era noticiada sua morte, ele reaparecia em outra fazendo um novo ataque libertador. E assim o mito de que Benedito era imortal se espalhou e a cada novo ataque, as pessoas perguntavam “Será o Benedito?.”
Vale lembrar que a vida média de um negro escravizado naquela época era de só 20 anos. Muitos morriam logo depois da alforria, porque a vida de escravo era tão penosa, tão sofrida que a saúde das pessoas ficava muito frágil.
Mas, Benedito só morreu muito velho, aos 80 anos, ou seja, ele como revolucionário da abolição, mesmo perseguido, viveu 4 vezes mais que a maioria dos trabalhadores da época e viveu até o dobro da idade de Zumbi, que foi morto aos 40 anos. E ele só morreu por uma covardia que foi feita contra ele quando já estava doente e mancando de uma perna. E só encontraram ele por ter sido traído por um caçador, que denunciou o esconderijo dele para as tropas que viviam querendo pegá-lo.
Ele se escondia e vivia em um tronco oco de uma árvore, onde sempre ele dormia. Aqueles que o perseguiam montaram tocaia em volta do tronco e ali ficaram até a noite, esperando que ele se recolhesse para dormir. Os covardes não tiveram coragem de enfrenta-lo de dia, mesmo eles estando em maioria, mais armados e serem todos mais jovens. Quando Benedito entrou no tronco, eles taparam as saídas tocaram fogo.
Gradativamente, a união do povo negro foi sendo alcançada, de modo que a saudação entre eles era: “Viva São Benedito! Viva o negro liberto!”, em uma clara demonstração de união entre a fé e a saudação ao líder guerreiro. Em decorrência disso, a igreja católica chegou a proibir os cultos a São Bino. [2]
Mas a defesa de seu mártir pela fé popular, expressão subjetiva da luta objetiva, se impôs a instituição religiosa vinculada a escravidão. O legado de Benedito Meia Légua é um rastro de coragem, ousadia e força para lutar pelo povo, que ainda hoje é representado em encenações de Congada de Ticumbi pelo Brasil. Em meio as cinzas que restaram do incêndio criminoso encontraram sua pequena imagem de São Benedito.
Então, todo dia 1º de janeiro, no Distrito do Cricaré que acontece a tradicional festa de São Benedito das Piabas. O festejo de cunho religioso e de manifestações culturais seculares presta uma homenagem ao santo que teve sua imagem mantida intacta quando atearam fogo ao tronco em que se escondia a lendária figura de Benedito Meia-Légua.
O líder quilombola que hoje é considerado um dos heróis negros da região não resistiu à atrocidade, mas a imagem de São Benedito foi recuperada e levada para a comunidade de Barreiras, onde permanece até os dias de hoje participando dessa celebração.
Então, nesse final de ano e no começo de 2023, no dia primeiro de janeiro, lembrem-se de Benedito Meia Légua, nosso herói, nosso irmão. Nossa vitória sobre os poderosos de nosso tempo, contra o latifúndio, contra os capitalistas e a escravidão de nosso tempo será a vitória do Benedito, Será o benedito! Será também a vitória pela causa que o Benedito lutou.
O líder quilombola que hoje é considerado um dos heróis negros da região não resistiu à atrocidade, mas a imagem de São Benedito foi recuperada e levada para a comunidade de Barreiras, onde permanece até os dias de hoje participando dessa celebração.
Então, nesse final de ano e no começo de 2023, no dia primeiro de janeiro, lembrem-se de Benedito Meia Légua, nosso herói, nosso irmão. Nossa vitória sobre os poderosos de nosso tempo, contra o latifúndio, contra os capitalistas e a escravidão de nosso tempo será a vitória do Benedito, Será o benedito! Será também a vitória pela causa que o Benedito lutou.
Notas
2. Eliezer Nardoto, 1999. História de São Mateus. Insurreições em São Mateus / Maciel de Aguiar (1995). Benedito Meia-Légua - A saga de um revolucionário da liberdade.).
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