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Frente Popular, Frente Ampla e Frente Única Antiimperialista

A Frente Ampla de Lula e Alckmin, agora também com Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston, agente do capital financeiro, defensor de mais privatizações, da reforma administrativa contra os interesses da população que apoia a candidatura Lula.

Humberto Rodrigues e Christian Romero

As frentes populares são frentes entre partidos de trabalhadores e partidos do capital. Podem ser divididas em 3 categorias e até mais de 3 como veremos mais adiante. A Frente Ampla de Lula com Alckmin, é uma expressão mais aburguesada da tradicional frente popular.

A Liga Comunista apoia a candidatura Lula, como único instrumento para derrotar o fascista Bolsonaro nesse momento e no terreno das eleições burguesas, mas critica a frente ampla como uma armadilha da conciliação de classes com a burguesia e o golpismo que pode nos causar sérios problemas futuros.

As frentes populares nascem como formulação teórica após um giro de 180° na tática da III Internacional, então sob o controle do stalinismo. Até a adoção dessa tática, quase em meados da década de 1920, a orientação política para os PCs era evitar alianças com a social democracia contra o fascismo.

Apesar da força da URSS e do tamanho e influência de massas dos partidos comunistas e da social democracia, tal tática sectária permitiu a conversão do nazismo de força marginal a partido de massas e ascensão de Hitler na Alemanha em 1933. 

Georgi Dimitrov, então secretário-geral da Internacional Comunista, comunica à nova política em um artigo do Pravda de maio de 1934, que passou a comentar favoravelmente sobre a colaboração socialista-comunista. A reorientação foi formalizada no VII Congresso da Internacional Comunista em julho de 1935 e atingiu sua apoteose com a proclamação de uma nova política: “Frente Popular Contra o Fascismo e a Guerra”. 

A partir de então, os partidos comunistas foram instruídos a formar amplas alianças com todos os “partidos antifascistas”, não apenas partidos de origem operária, como social democratas e trabalhistas, mas partidos também partidos burgueses, com o objetivo de garantir o avanço social na luta conjuntural interna dos países.

Menos de uma década depois, o stalinismo foi obrigado a fazer o mesmo zig-zag, a estender essa política frentista política e nacional, também para o plano militar e internacional contra o nazismo.


UMA FRENTE POPULAR MUNDIAL

No plano internacional, a mudança de orientação do stalinismo também obedeceu um giro de 180° graus, só que mais tardiamente. Apesar de desde 1934 haver uma orientação oficial para os PCs construírem a “Frente Popular Contra o Fascismo e a Guerra”, em 23 de agosto de 1939, os governos de Stalin e Hitler assinam o Tratado de Não Agressão entre a Alemanha e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), conhe cido principalmente por Pacto Molotov–Ribbentrop, devido ao nome dos ministros dos Negócios Estrangeiros alemão e soviético, Joachim von Ribbentrop e Viatcheslav Molotov, respectivamente. A este pacto seguiu-se o Acordo Comercial Germano-Soviético em fevereiro de 1940. O pacto durou até 22 de junho de 1941, quando a Alemanha, sem prévio aviso, iniciou a invasão do território soviético pela Operação Barbarossa.

Assim como depois da ascensão de Hitler na Alemanha, depois da fulminante invasão da URSS pelo exército nazista, surpreendendo Stalin, que haviam acreditado no tratado de não agressão, o stalinismo realiza também o giro em sua política de frente internacional e passa a constituir uma aliança com os países imperialistas anglo-saxões contra o ex-aliado nazista. Naquela época, a aliança da URSS com os países imperialistas anglo-saxões, que na década anterior armaram o nazismo contra a URSS, pode ter sido a primeira frente popular mundial.

Dessa frente popular mundial com o grande capital ocidental resultou na extinção sumária da III Internacional (que fora criada por Lenin em 1919) em plena Segunda Guerra Mundial! A Internacional Comunista foi extinta em 15 de maio de 1943. Em 1949, o imperialismo cria a sua internacional anti-URSS, a OTAN. Com essa frente com a URSS o imperialismo também logrou estabelecer uma política de contenção da revolução europeia, em um momento muito favorável devido a quase inexistência de regimes e Estados burgueses após a guerra e quando as resistências antifascistas animadas pelos comunistas derrotarem a ocupação nazi-fascista em várias nações. O imperialismo consumou essa contenção com os acordos contrarrevolucionários de Yalta e Potsdan, de divisão da área de influência com o imperialismo, o que sufocou revoluções como na Grécia, Itália, etc.

A partir da experiência histórica do desenvolvimento das frentes populares no plano nacional, avaliamos três perspectivas para o desenvolvimento da tática da frente popular:

1) FASCISMO: A frente popular em sua concepção mais clássica pode dar lugar ao fascismo como aconteceu na França, na Espanha, nos anos 30, ou no Chile, nos anos 70.  Após frustrar as expectativas de suas bases sociais, abortar as possibilidades da revolução social, desarmar política e militarmente as organizações do proletariado, a frente popular deixa o caminho livre para o triunfo do fascismo;

Palmiro Togliatti, do PCI, aprofunda a tática da Frente Popular com uma Frente Ampla, o chamado “ponto de virada de Salerno”, de abril de 1944. Sob orientação de Stalin, Togliatti renuncia a luta pela revolução socialista na Itália e estabelece um compromisso com os partidos antifascistas, a monarquia e o general de Mussolini, Pietro Badoglio, que usou armas químicas contra a população Etíope, pela formação de um governo de unidade nacional para a reconstrução da Itália burguesa pós-fascista. É o início da liquidação do PCI, até então o maior partido comunista do ocidente.  

2) FRENTE AMPLA LIQUIDACIONISTA: As frentes populares podem constituir-se em amplas frentes onde se dissolvem progressivamente na máquina do Estado capitalista até se desintegrarem por completo. Exemplo disso temos no Partido Comunista Italiano, o maior partido comunista de todo o Ocidente.

No processo de degeneração liquidacionista da frente ampla, o PCI justificou sua estratégia com o chamado eurocomunismo. Sob a orientação de Togliatti, com a queda de Mussolini na Itália, já em abril de 1944 foi dado origem ao “ponto de virada de Salerno”, um compromisso com os partidos burgueses tradicionais dando origem a um governo de unidade nacional-burguesa.

Daquele movimento comunista imenso muito pouco sobrou e depois de décadas de liquidacionismo, o neofascismo emerge com força na Itália em 2022. Essa política de frente ampla, tem sido responsável pela desmoralização e dissolução das organizações esquerda em todos os países em que é aplicada, como no Chile após a ditadura de Pinochet e no Uruguai, com a Frente Ampla.

Não se deve descartar que a curto ou médio prazo, essa segunda variável desmoralizante de alianças com o inimigo de classes não resulte na volta triunfante do fascismo ou neofascismo, que no Brasil é representando hoje pelo bolsonarismo.

3) FRENTE ÚNICA ANTIIMPERIALISTA (FUA): As frentes populares excepcionalmente podem evoluir para frentes anti-imperialistas. Como cogitado no Programa de Transição da IV Internacional:

É, entretanto, impossível negar categórica e antecipadamente a possibilidade teórica de que, sob a influência de uma combinação de circunstâncias excepcionais (guerra, derrota, quebra financeira, ofensiva revolucionária das massas etc.), os partidos pequeno-burgueses, incluídos aí os stalinistas, possam Ir mais longe do que queriam no caminho da ruptura com a burguesia. (Programa de Transição da IV Internacional

Não está descartada essa possibilidade e sob determinações históricas excepcionais a frente popular foi rompida pelos aliados capitalistas ou imperialistas, avançou a expropriação do imperialismo e de forma permanente do capital como nas revoluções iugoslava, chinesa, cubana e vietnamita. No entanto, essas experiências não criaram governos de tipo soviéticos, apoiados em conselhos populares, como nos primeiros anos do governo bolchevique.

Nessas circunstâncias se criaram estados operários deformados, na maioria das vezes as frentes anti-imperialistas se desenvolvem como revoluções políticas não avançando na expropriação do conjunto da burguesia como classe, não avançando na parte social ou no máximo avançando parcialmente e com o tempo retrocedendo diante da reação que se fortalece e retorna.

Exemplos dessa última variante podem ser notados com diferentes singularidades no Irã e a Nicarágua em 1979, Burkinia Faso nos anos 80, sobretudo depois do início da ofensiva imperialista da financeirização, de desmonte dos processos de industrialização ocidental. Talvez também possa entrar nessa categorização Angola, Moçambique e o Iêmen do Sul. O conjunto desses processos revolucionários e suas lições precisam ser estudados, caso a caso.


UMA FRENTE ÚNICA ANTIIMPERIALISTA MUNDIAL

No plano internacional, a decadência imperialista em sua fase de financeirização (1970-2022), marcada pela desindustrialização e de guerra comercial e sanções contra os povos oprimidos e estados operários, provocou, após a crise financeira de 2008-2010, a quebra do equilíbrio capitalista na luta entre as nações.

A China, industrializada pela arbitragem global do trabalho (John Smith) pelo próprio imperialismo, tornou o mundo capitalista dependente de sua cadeia produtiva, tanto na importação quanto na exportação de mercadorias, projetou-se para tornar-se a nação detentora de maior Produto Interno Bruto a partir da crise de 2008.

Para tentar conter a influência chinesa advinda da conquista dos mercados mundiais pela China, os EUA buscaram golpear por mecanismos de guerra híbrida, lawfare, golpes de estado parlamentar e militares aos governos que se aproximaram politicamente da China. Foi o que ocorreu em Honduras, Líbia, Paraguai, Equador, Ucrânia, Brasil, Bolívia,...

A Rússia, após sofrer uma década de doutrina de choque pinochetista, um ataque especulativo em 1998 e o avanço militar da OTAN para o leste, expandido após o fim da URSS (1991), busca defender-se reestatizando parte da economia e disputando política, militar e indiretamente as antigas áreas de influência da URSS com o imperialismo.

A partir de então, China e Rússia foram obrigadas as estabelecer uma aliança defensiva contra as investidas dos EUA e seus aliados da OTAN, e da AUKUS no pacífico, uma aliança estratégica apoiada na dialética de uma nova guerra fria, mais forte do que os laços políticos que as burocracias stalinistas possuíam e que foram facilmente rompidos pelo assédio imperialista que jogou a China contra a Rússia nos anos 1970.

Essa aliança, composta também por outras nações oprimidas como Venezuela, Irã, Nicarágua, Síria, e pelos Estados operários de Cuba e Coreia do Norte é uma frente única anti-imperialista. A fração mais avançada, proletária e em guerra aberta contra o imperialismo dessa FUA está nas repúblicas populares do Donbass, no Leste ucraniano. Na medida em que a OTAN recriou o nazismo na Ucrânia para sua ofensiva russófoba, a luta antiimperialista na Ucrânia foi obrigada a converter-se em luta antifascista, então a FUA atual é antiimperialista e antifascista.

A hostilidade e a pressão do imperialismo são, pela negação, uma força motriz da luta antiimperialista e socialista, forjam a “cooperação antagônica” dos oprimidos, historicamente obrigaram direções não revolucionárias a liderarem revoluções, a irem além de onde desejavam na linha de ruptura com o sistema mundial dominado pelos EUA. Se como dizia Moniz Bandeira, “impérios são mais perigosos quando declinam”, nesse momento de decadência do imperialismo então, essa força motriz é maior e mais tensionadora em favor de uma resistência oposta.

Pode o proletariado mundial triunfar sem aproveitar-se das contradições do inimigo de classe, da decadência do imperialismo, da quebra do equilibro capitalista inter-Estados? Tendo a Frente Única Antiimperialista como tática, como ponto de partida, deve ter a revolução permanente como estratégia, como ponto de chegada. Pode triunfar sem aproveitar-se da disputa entre capital financeiro e capital produtivo, para lutar pela reindustrialização, para ampliar o número de nossa classe, que empoderada pela sua maior vantagem, seu número, avançar em direção a sua própria estratégia de classe que vai muito além da estratégia dos governos das nações que compõem a FUA, converter a luta contra o imperialismo em luta internacionalista, proletária, revolucionária e permanente, pelo socialismo.

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