Ciro Gomes faz o jogo do Golpismo, no Brasil e no Ceará
Nacional desenvolvimentista "de gogó", na prática, Ciro é um prestativo executor do modelo neoliberal contra a população cearense. O PDT e um suposto getulismo são uma fantasia vestida por Ciro nos anos bem recentes. Ciro continuou no partido oficial da ditadura, o PDS até o apagar das luzes da ditadura, já em meados dos anos 1980, migrando para o PSDB, do empresário Tasso Jereissati, só depois, para logo participar da ofensiva neoliberal dos anos 1990. Ciro sempre esteve organicamente no partido ou na coligação do partido que governava o país até 1998, quando disputou sua primeira eleição presidencial.
Antigolpista de palavras, na prática, Ciro usa do mesmo discurso surrado “contra a corrupção” que angariou o apoio da classe média reacionária e projetou a farsa da Lavajato contra Lula. Com a cristalização da polaridade hegemônica Lula x Bolsnaro, Ciro se mostrou disposto a aliar-se com qualquer golpista que se disponha a ser seu vice. Movimento que até agora tem sido frustrado. Ele já procurou o fascistóide Datena (PSC) e Luciano Bivar, dono do PSL, partido de Bolsonaro em 2018. Hoje, Bivar dirige o União Brasil, criado após a fusão entre o PSL e o partido sucessor do PDS da ditadura, o Democratas.
Boa parte dos candidatos a governador do PDT nos Estados já migrou para apoiar Lula, deixando Ciro com poucos palanques. Cada vez com menos apoiadores dentro de seu partido, Ciro revela-se como um mero franco atirador antilulista sem nada a perder. "Ciro Gomes sobe o tom contra Lula e aumenta isolamento no PDT".
Não foi difícil para Ciro Gomes, desesperado por sua
estagnação nas pesquisas (com índices menores que nas vezes anteriores que disputou a
presidência), vendo seus apoiadores de partido e eleitores migrarem para a
candidatura petista, assumir abertamente um discurso funcional ao bolsonarismo
contra Lula.
Só quem não conhece a realidade do Estado governado pelo clã dos Ferreira Gomes há mais de três décadas se surpreende com o discurso cada vez mais reacionário do pedetista. Ele é a continuidade do coronelismo nordestino através da cooptação de uma parte dos movimentos populares, governando com o PT que possuía um peso histórico no eleitorado da capital, Fortaleza. Peso eleitoral comprovado pelas eleições de Maria Luiza (1986-1989) e Luizianne Lins (2005-2013). Manobra, que conta, obviamente, com o beneplácito das direções nacional e estadual do PT.
Essa é a formula para neutralizar a oposição popular e sindical à política que representa a associação entre o empresariamento do coronelismo histórico com o grande capital.
As lutas de classes no Ceará: desafios na luta política e no mundo do trabalho, por Fábio Sobral
Ciro pratica um neoliberalismo radical e preventivo nas reformas previdenciária, fiscal e administrativa. Ciro como candidato a presidente, critica a criminosa privatização da Eletrobrás, mas hoje as contas de luz da população do Ceará estão entre as mais altas do país, graças a privatização da companhia de fornecimento de luz do estado, operada em 1998, com apoio dos Ferreira Gomes.
Ciro aprofunda a desigualdade social no Estado com salários
baixos e projeção de riquezas bilionárias e de uma política repressiva
preventiva contra a marginalidade criada pela profunda desigualdade no estado.
A secretaria de segurança do atual governo PT-PDT tortura presos indefesos, realiza castigos coletivos, maltrata e aterroriza mães dos presidiários e perversamente reúne na mesma cela facções distintas para se matarem.
A oligarquia dos Ferreira Gomes (FG) governa o Ceará desde
1991, quando Ciro foi governador do Estado pela mão do empresário tucano Tasso
Jereissati, que deu início ao chamado mudancismo, uma modernização conservadora
do capitalismo na região. As coisas precisavam mudar para permanecer como
estavam. Em verdade, o mudancismo foi o movimento político que assumiu a
direção da ofensiva neoliberal no Ceará, a reforma do Estado, um movimento oposto
ao que representava, como modelo de gestão do capital, o estatismo e o nacional
desenvolvimentismo.
Desde 2006, os FG governam em parceira com o PT ou através
de agentes políticos do PT. Em todo esse período, nada do tal Projeto Nacional
de Desenvolvimento (PND) foi realizado no Estado do Ceará em favor da população
pobre. A economia do estado foi “desenvolvida” em favor do modelo
financeirista-neoliberal, catapultando vários burgueses a bilionários as custas
da miséria crescente da população.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará registrou um PIB (produto interno bruto) de quase R$ 150 bilhões em 2017, mas apesar da cifra continua entre os mais pobres do país — na 18ª posição de 27 estados e distrito federal. O rendimento médio mensal por habitante em 2019 foi de apenas R$ 942.
A média salarial do Ceará está em R$ 1.411,09 e está abaixo
do resultado brasileiro, que é de R$ 1.667,64. Com isso, o estado ficou em 17º
no ranking.
De acordo com o levantamento feito pela CUT-CE e Dieese, o salário mínimo só dá para comprar duas cestas básicas em Fortaleza.
É essa super-exploração da força de trabalho no Ceará – tanto
pelos salários baixos quanto pelo alto custo de vida imposto pelos comerciantes
e pelo preço das mercadorias em geral majoradas pelo capital – que favorece a
que o número de bilionários se multiplicassem várias vezes nos últimos 30 anos.
Com 17 bilionários na lista de 345 nomes da Forbes 2021, o Ceará é o primeiro do Nordeste em número de pessoas muito ricas e na soma do valor de patrimônio delas (R$ 79,30 bilhões), ficando à frente de são Pernambuco (R$ 16,99 bilhões); Maranhão (R$ 11,6 bilhões); Paraíba (R$ 3,25 bilhões ) e Bahia (R$ 3,17 bilhões).
A família mais rica do estado a liderar essa lista é a dona
do sistema de saúde privada HAP Vida (que já denunciamos aqui http://www.folhadotrabalhador.org/2022/04/operarios-da-construcao-civil-voltam.html
por não pagar os salários dos operários da construção civil que constroem seus
hospitais pelo Nordeste).
Esses bilionários se projetam graças a não existência de um
verdadeiro investimento desenvolvimentista na área das ações sociais do Estado e
das condições básicas de vida da população que tornar-se refém desses abutres
da saúde, por exemplo, porque o governo do Estado não lhes assegura esse
direito elementar.
O que demonstra que o modelo de desenvolvimento verdadeiro
dos FG é o neoliberal e seu “nacional desenvolvimentismo” é pura demagogia
“para inglês ver”.
A oligarquia se jacta de premiações e bons ranqueamentos da
educação do Ceará pelos organismos multilaterais do imperialismo, como o Banco
Mundial.
O estudo elaborado pelo Banco
Mundial indica que em 2005 o resultado no IDEB anos iniciais do ensino
fundamental foi de 2,8 e, em 2019 o índice chegou a 6,3, ultrapassando a meta
de 6,0 sugerida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) para o Brasil em 2022... O documento demonstrou que 10 dos 20 municípios
brasileiros com melhor desempenho no IDEB anos iniciais e finais do ensino
fundamental eram municípios cearenses - e, ao contrário do que se poderia
supor, estas cidades estão localizadas em regiões socioeconomicamente
empobrecidas. O IDEB é uma prova de alcance nacional que avalia a taxa de
aprovação média das escolas e o desempenho dos estudantes nas disciplinas de
português e matemática. (Ceará desafia a lógica)
Os testes não atestam de fato o aprendizado nem o resultado social dessa educação oferecida. Na base desse projeto falacioso está na desvalorização da força de trabalho dos professores, que até 2021 estava entre os piores salários do país.
A vitrine de “melhor educação do país” em nada alterou para melhor as condições de vida dos estudantes, dos professores e da comunidade escolar do Estado que não tem seu poder aquisitivo aumentado, que não tem suas dívidas anistiadas, que segue sendo cada vez mais pauperizada. A taxa de desemprego no Ceará, em cerca de 11% em números oficiais, é a mesma taxa de desemprego do Brasil de Bolsonaro.
“As pessoas que foram convencidas a virem ou expulsas do campo para as cidades foram enganadas. Hoje você tem bairros inteiros com índices de desemprego permanente de 70% da população economicamente ativa. É um grupo que não volta mais ao mercado como nós conhecemos. E os que voltam, voltam numa situação de precarização extrema como todos nós acompanhamos através da ideia de trabalho precarizado, estrutura de gente trabalhando em casa, de elevação das taxas de lucro.” (Fábio Sobral, As lutas de classes no Ceará: desafios na luta política e no mundo do trabalho)
O nacional desenvolvimentismo getulista esteve associado a investimentos em políticas industriais, saúde, educação, aumentos salariais e baixo desemprego (não por concessão do ditador nacionalista, mas pelo crescimento das lutas do proletariado que dele arrancou importantes conquistas). Afora os investimentos industriais e renúncias fiscais que beneficiam ao empresariado bilionário, o desenvolvimentismo não passa de mais um Ciro game de marketing eleitoral, em processo de esgotamento político.
Isso tudo é um criadouro de bolsonarismo na sociedade, no
aparato repressivo e na própria classe dominante.
Assim, o cirismo vem ganhando por pouco do bolsonarismo nas
eleições e graças ao aparato que controla quase desde a década de 1980 nas duas
esferas de governo. Em 2020, em Fortaleza, o candidato de Ciro ganhou por
míseros 43 mil votos em um universo de 1 milhão e 300 mil votos no segundo
turno.
Não há nacional desenvolvimentismo no Ceará, mas
privatização e neoliberalismo mais eficaz que Guedes. A miséria e a repressão
alimentam o reacionarismo e o milicianismo que ameaça superar a atual
oligarquia na representação do coronelismo empresariado cearense nas próximas
eleições, graças a própria política de Ciro e de seu cada vez mais esquálido
séquito.
Mas, não se pode negar que Ciro possua alguns apoiadores fiéis. É o caso do grupo do PSOL de seguidores do professor catarinense Nildo Ouriques que se denomina de "Revolução Brasileira". Como Ciro, esse grupo também se passa por nacional desenvolvimentista. Em 17 de março de 2020, Ouriques, quiçá sonhando ser candidato a vice na chapa presidencial do pedetista (vaga que Ciro ofereceu para outras excrescências como Datena e Bivar), apresentou Ciro como: "o principal representante da oposição de esquerda no regime parlamentar burguês" (Aos 2:04:50 do vídeo "Crash continuado", PCC e Guerra Híbrida: chegou o "reboot"? – D.E.). O professor catarinense tenta se promover ao mesmo tempo em que embeleza a farsa, dando a entender que suas ideias influenciam no projeto do pedetista: "Ciro, escutando as nossas teses, sacou que não tem espaço para o lengalenga. Então ele diz que é preciso um novo radicalismo político. Ele vai sintonizando, à medida de Sobral." Ouriques ajuda a Ciro a fazer o jogo do golpismo contra o PT. Por sinal, o "Revolução Brasileira" do PSOL ajuda a contrarrevolução negando que tenha ocorrido um golpe de Estado em 2016, alegando que todo o golpe não passa de uma criação do que chama de "lulo-petismo". Por fim, tão certeiro como nas afirmações anteriores, Ouriques prognosticou:
"Ele será o grande portador, a grande figura das próximas eleições no terreno da esquerda, será Ciro Gomes. O Lula é carta fora do baralho, jamais vai voltar a disputar uma eleição, não tem como, não tem como! Ciro se credenciou como a figura". (NILDO OURIQUES: "Ciro Gomes já ocupou o lugar de Lula como líder da oposição")
Ciro, o Grande, da Pérsia, foi um conquistador que tornou
seu império o maior do planeta até então, nos 30 anos de seu reinado (559–530
a.C.). Em um momento político em que a candidatura Lula encarna eleitoralmente o
descontentamento popular contra o golpismo e contra o bolsonarismo, Ciro, o
pequeno, ao se postular como o porta voz mais agressivo do antipetismo não
bolsonarista, sabota a luta contra Bolsonaro, talvez não consiga manter sua
candidatura a presidente até as eleições e favorece a vitória do bolsonarismo
no próprio Ceará em 2022.
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