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Esquerda pós-moderna, eurasianismo e nacional-bolchevismo (fascismo)


Leon Carlos (Tendência Militante Bolchevique), Humberto Rodrigues (Liga Comunista/FCT) e Marcos Silva (Coletivo Lênin/FCT), respectivamente, seções da Argentina e do Brasil do Comitê de Ligação da Quarta Internacional. Publicado pela primeira vez em 15 de maio de 2015. Atualizado em 13 de abril de 2022.


Nem esquerdas pós-modernas e pró-imperialista, nem "nacional-bolchevismo" 
Pela reconstrução do bolchevismo internacionalista!

Pós-modernidade e decadência imperialista

A pós-modernidade é a expressão filosófica do neoliberalismo, que ganhou força com a ofensiva anticomunista com a contrarrevolução social na URSS e no Leste Europeu entre 1989-1991. O pós-modernismo é o inimigo mortal de qualquer teoria totalizante da realidade e sobretudo do marxismo.

O neoliberalismo foi inaugurado na década de 1980, a partir de grandes derrotas da classe trabalhadora, com a ditadura militar chilena e os governos conservadores de Thatcher, na Inglaterra, e Reagan, nos EUA. O neoliberalismo é a política econômica da nova economia política de financeirização imperialista, iniciada na década de 1970, após o giro estrutural do sistema, que operou a desindustrialização do Ocidente e a transferência da produção industrial para a China e outros países orientais.

Assim, a pós-modernidade são tendências socioculturais que surgiram principalmente no Ocidente que, por diferentes nuances, ocorreram tanto nos centros imperialistas quanto nas semicolônias, com a desproletarização da força de trabalho, privatizações, aumento dos setor de serviços, da economia informal e da marginalização.

A partir da crise de 2008 começa o período de epílogo da pós-modernidade. O ciclo da financeirização, de aposta na especulação com capitais fictícios e seus derivativos encontra seu esgotamento nessa crise da primeira década do século XXI, que teve como epicentro os EUA e causa uma profunda retração da participação dos EUA e da UE no mercado mundial. A industrialização cria na superpopulosa China, a maior concentração de força de trabalho no planeta e transforma o país no maior produtor de mercadorias para o mercado mundial, sob o controle da planificação estatal do PC Chinês. Simultaneamente, a Rússia, rica em gás e trigo, começa a reagir ao processo de recolonização, estatizando os setores estratégicos energético e militar, consolidando sua condição de fornecedor principal de energia para a Europa e criando uma soberania militar em relação ao Ocidente. 

Uma nova guerra fria é gerada a partir da combinação entre a decadência imperialista e o ascenso dessas duas novas potências capitalistas, cuja excepcionalidade reside em terem sido antigos e imensos estados operários que entram em contradição com o sistema imperialista em um dado momento do processo de restauração capitalista. Então, assim como entra em crise de dominação a hegemonia imperialista do sistema mundial, ainda que em ritmos distintos, também entra em crise a política economica dominante, o neoliberalismo, e sua expressão filosófica, o pós-modernismo.

Marxismo e Bolchevismo

O marxismo é a mais avançada teoria totalizante e monista da realidade. O marxismo é o materialismo fundido com a dialética, a expressão mais avançada da cultura humana derivada do socialismo francês, da filosofia alemã e da economia política britânica. Essas três fontes só se fundiram após a industrialização e a partir da proletarização das classes exploradas na sociedade burguesa, da luta de classes do século XIX, que lançou as bases do capitalismo imperialista e a necessidade de explicá-lo.

A melhor expressão política dessa fusão foi o bolchevismo criado por Lenin, que reuniu o proletariado revolucionário para a conquista do poder e a fundação do primeiro Estado Operário do planeta na revolução de outubro de 1917.

Eurasianismo e Nacional-Bolchevismo

O comunismo revolucionário não ressurgiu com o declínio do pós-modernismo, ele não se recuperou subjetivamente e organizativamente da grande onda ofensiva ideológica anticomunista do imperialismo de três décadas atrás. Se o comunismo revolucionário não tem atualmente força, ossos e sangue para suplantar o pós-modernismo material e subjetivamente, eis que surge de uma variante do capitalismo, nascido da reação nacional a política neoliberal e neocolonial aplicada a Rússia e que se empodera, que prostitui o comunismo e sua tradição russa (o bolchevismo) e faz um sincretismo entre os símbolos do comunismo e uma velha forma de conservadorismo burguês, o tradicionalismo do italiano Julius Evola.

Não por acaso, é na acumulação de meios de produção e destruição - herdados dos mega-estados operários, que sobretudo na Rússia, durante a nova guerra fria, que se dão as bases materiais para o ressurgimento e projeção de concepções reacionárias como o neomodernismo, o eurasianismo ou quarta teoria política (desenvolvida por Alexander Dugin) e o nacional-bolchevismo (inspirado no político russo falecido em 2020, Eduard Limonov). Esse último é uma corrente nascida na primeira guerra mundial na Alemanha e na Rússia.

Já Gramsci criticara em seus Cadernos do Cárcere a que chamava de "eurasiatismo":

"Eurasiatismo. O movimento se desenrola em torno do jornal Nakanune, que tende à revisão da atitude assumida pelos intelectuais emigrados: teve início em 1921. A primeira tese do eurasiatismo é que a Rússia é mais asiática do que ocidental. A Rússia deve se colocar à frente da Ásia na luta contra o predomínio europeu. A segunda tese é que o bolchevismo foi um acontecimento decisivo para a história da Rússia: "ativou" o povo russo e impulsionou a autoridade e a influência mundial da Rússia com a nova ideologia que acabou por difundir. Os eurasiáticos não são bolcheviques, mas são inimigos da democracia e do parlamentarismo ocidental. Muitas vezes, comportam-se ostensivamente como fascistas russos, como amigos de um Estado forte no qual a disciplina, a autoridade, a hierarquia predominem sobre a massa. São partidários de uma ditadura e saúdam a ordem estatal vigente na Rússia dos Sovietes, ainda que eles pretendam substituir a ideologia proletária pela nacional. A ortodoxia é para eles a expressão típica do caráter popular russo; ela é o cristianismo da alma eurasiática." (Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, Volume III, p. 144)

Ironicamente ensinamentos de Gramsci são reivindicado hoje por partidos nacional-bolcheviques. Setores da nova direita mundial e da brasileira se inspiram, tecnicamente, no neogramisanismo.

"A abordagem neogramsciana também foi desenvolvida em linhas um tanto diferentes,... Stephen Gill, professor pesquisador de ciência política na Universidade de York. Gill contribuiu para mostrar como a elite Comissão Trilateral atuou como um "intelectual orgânico", forjando a ideologia (hoje hegemônica) do neoliberalismo e do chamado Consenso de Washington e, posteriormente, em relação à globalização do poder e da resistência em seu livro Poder e Resistência na Nova Ordem Mundial (Palgrave, 2003)." (WIKIPEDIA, Neo-Gramscianism).

No Brasil, a nova direita militar também tratou de fazer, a seu modo, um estudo minuscioso de Gramsci, através do estudo “A Revolução Gramscista no Ocidente”, de autoria do General Sergio Augusto de Avellar Coutinho, referencia da extrema direita golpista, bolsonarista e olavista.

O ascenso da nova direita e do bolsonarismo favoreceu grupos que se reivindicam o eurasianismo, como o grupo Nova Resistência. Também favoreceu o nacional bolchevismo, como o Partido Nacional Bolchevique Brasileiro, PNBB. O PNBB reivindica como "essência absoluta" uma metaideologia consituída entre o que há de comum entre o bolchevismo e o fascismo. O partido também reivindica, simultanemante, o anti-semitismo e a islamofobia.

O eurasianismo reivindica também traços do stalinismo, do cristianismo ortodoxo, do fascismo e ganha alguma expressão com a decadência da hegemonia imperialista e de suas expressões econômicas, políticas e filosóficas, respectivamente: a financeirização, o neoliberalismo, o pós-modernismo e o identitarismo, identificados no oriente como parte da decadência ocidental.

O nome quarta teoria política, que se apresenta como posterior as teorias do liberalismo, do marxismo e do fascismo, é uma repaginação confusa dada por Dugin ao eurasianismo. Dugin é falsamente apresentado por uma ala mais sensacionalista da mídia ocidental como o Rasputin, o estrategista de Putin. A prova de que esse é um mito ocidental está no fato de que Dugin defende a ideia de que a China representa uma ameaça para a Rússia e estimula a disputa entre os dois países.

Nos últimos anos, graças a dialética da nova guerra fria e sobretudo depois das sanções impostas pelo imperialismo atlantista a Rússia durante a guerra na Ucrânia, Putin vem realizando um movimento oposto, de aproximação em relação a China, vital no confronto entre a Rússia e a OTAN. Mas os verdadeiros think thanks imperialistas, como um estudo elaborado em 2017 da Rand Corporation não consideram Dugin muito influente no Kremlin nem nos partidos políticos russos:

A tese geopolítica central de Dugin é que, por causa de sua história e geografia asiáticas únicas, a Rússia é fundamentalmente incompatível com o Ocidente. Em vez disso, argumenta Dugin, a Rússia deveria procurar dominar o espaço eurasiano, que ele definiu como todas as repúblicas da antiga União Soviética e alguns elementos de outros países vizinhos. Dentro desse espaço, a Rússia deve criar um ambiente que promova “autoritarismo, hierarquia e a colocação de princípios de estado-nação baseados na comunidade contra pequenos interesses humanos, individualistas, hedonistas e econômicos”. A Europa Central e Ocidental deve cair em uma área de domínio alemão, livre da influência corruptora dos países “atlanticistas” da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. dentro da esfera da Alemanha, enquanto a Polônia, Letônia e Lituânia deveriam ter “status especial” dentro da esfera eurasiana controlada pelos russos. Dugin despreza a validade da Ucrânia como um país real: “A Ucrânia como estado não tem significado geopolítico. Não tem nenhuma importância cultural particular ou significado universal, nenhuma singularidade geográfica, nenhuma exclusividade étnica”. Além disso, a China representa uma ameaça para a Rússia, então Dugin recomenda ajuda da Coreia, Vietnam, Índia e Japão para garantir a “desintegração territorial, a fragmentação e a divisão política e administrativa do estado” chinês. À exceção talvez da Ucrânia, esses não parecem ser conceitos realistas que tenham adesão significante de autoridades russas. Ele é provavelmente mais visto como um provocador extremista com algum impacto limitado e periférico que como um analista influente com impacto direto na política. Ele não parece ter envolvimento direto com os principais partidos que advogam políticas regionais agressivas ou antiocidentais – como Rússia Unida, o Partido Comunista, o Partido Liberal Democrático da Rússia ou a Rodina. Ele também foi exonerado de seu cargo na Universidade Estatal de Moscou, após pregar a morte dos nacionalistas ucranianos, além de formular críticas duras às políticas de Putin na Ucrânia. (RAND, Russian Views of the International Order, BUILDING A SUSTAINABLE INTERNATIONAL ORDER - A RAND Project to Explore U.S. Strategy in a Changing World, 2017, pp. 81-82).

Mesmo assim, não se pode desprezar fenômenos políticos como o eurasianismo e o nacional-bolchevismo, ainda mais agora quando ocorrem vitórias da Rússia nos conlitos com o imperialismo. Esses fenômenos atraem incautos que renunciam toda critica à política da direita burguesa russa, atraem a direita alternativa (alt-right).

As ideias de Dugin são indubitavelmente perigosas e não devem ser subestimadas. Dito isso, é de se ressaltar que Dugin recebe muito mais atenção e credibilidade da parte de figuras como Lauren Southern e da alt-right ocidental que dos políticos do Kremlin. Dugin fascina a alt-right com sua retórica antiliberal, antiglobalista, eurocética e nacionalista. Esses imbecis úteis, juntamente a jornalistas reacionários, garantem a Dugin uma cobertura e uma legitimidade muito maiores no Ocidente que nas elites do Kremlin, sobre as quais ele supostamente exerce muita influência. Como resultado, observadores ocidentais impressionáveis concluem que Dugin é um líder ideológico quando ele não o é. Para verdadeiramente compreender quem verdadeiramente influencia o Kremlin, deve-se observar o ativista russo ortodoxo e oligarca Konstantin Malofeev, que financiou grupos russos no leste da ucrânia, bem como o filósofo eslavofílico do início do século 20, Ivan Ilyin.

Além de não sofrer a influência da quarta teoria de Dugin como dizem, Putin também proibiu o Partido Nacional Bolchevique na Federação Russa, também conhecido como Partido Nazbol (em russo: Национал Большевистская Партия, НБП) fundado em 1993 por Limomov, sendo seus militantes obrigados a fundarem o partido Outra Rússia de E.V. Limonov, que não tem registro para participar de eleições. O Partido Nazbol também veem a China como uma das ameaças à Rússia.

A esquerda pós-moderna, identitária e pró-imperialista

Por sua vez, a chamada "esquerda-OTAN" faz seguidismo à propaganda de guerra do imperialismo, ou seja, a mídia sensacionalista e criadora de mentiras russófobas para justificar as posições da OTAN. A "esquerda-OTAN" reproduz a versão de que Dugin é o estrategista da Rússia. A "esquerda-OTAN" tenta identificar as ideias de Dugin sobre a Ucrânia como sendo um plano de invasão e anexação de toda a Ucrânia pela Rússia. De seu modo, essa esquerda favorece ao imperialismo ao demonizar os objetivos da campanha militar russa de "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia, exigindo a soberania das repúblicas populares do Donbass e a renúncia de toda aspiração a ingressar ou colaborar com a OTAN por parte de Kiev.

É preciso fazer uma análise materialista desses fenômenos políticos. A versão contemporânea do eurasianismo é um subproduto de uma relativa e nova proletarização da economia internacional. Tanto pela expansão econômica do núcleo russo-chinês, quanto pela necessidade de competir com o das potências imperialistas.

Na ausência de uma direção revolucionária para as lutas de 1968, suas bandeiras foram pirateadas para promover o que viria a ser, décadas depois, o pós-modernismo na identidade cultural. Sendo esse o fermento da esquerda pós-moderna e identitária, da mesma forma que hoje o nacional-bolchevismo usa as reivindicações anti-imperialistas para fomentar a direita neomoderna.

Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa... Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxilio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar e nessa linguagem emprestada. (Karl Marx, 18 Brumário de Luis Bonaparte).

Portanto, não é por acaso que a direita neomoderna pirateia “roupagens” históricas do marxismo para se camuflar e se embelezar, como escudo ideológico burguês em sua disputa contra o imperialismo pós-moderno hegemônico. O nacional-bolchevismo é parte das concepções da direita neomoderna que flerta com os grupos antiimperilistas, ou seja, da direita que emerge na mesma medida em que a pós-modernidade entra em crise. Em linhas gerais, a neomodernidade pode ser definida como uma tendência sociocultural (que possui variáveis) em que o econômico-reivindicativo prevalece, em geral, sobre a identidade cultural derivada de considerações de raça, etnia, sexo ou orientação sexual. Com sua homofobia e seu machismo, o nacional-bolchevismo reúne os aspectos de uma direita neomoderna.

Momentaneamente, como na Ucrânia, por exemplo, em termos práticos vemos que a direita neomoderna tem mais contradições com o imperialismo do que a esquerda pós-moderna que apoia o movimento neofascista pró-imperialista desde o golpe de Estado do Euromaidan e sustenta com dinheiro e armas os ucronazis. Mas, não temos dúvidas de que combater o nacional-bolchevismo (que detectamos grupos mesmo em países latino-americanos como a Venezuela) é um desafio para nós que a partir de uma defesa intransigente dos princípios e tradições do bolchevismo e seu internacionalismo, invocamos taticamente uma Frente Única Anti-imperialista Mundial, sem abrir mão nem por um milionésimo de segundo da luta estratégica por novas revoluções bolcheviques e proletárias contra as oligarquias burguesas que hoje controlam a Rússia e a China.

O nacionalismo dos povos e países oprimidos é progressivo e legítimo

Os internacionalistas não desprezam as aspirações nacionais e democráticas nem o patriotismo de um povo oprimido quando em confronto entre esse patriotismo e o imperialismo, consideramos tais aspirações progressivas e legítimas, como a reação russa diante da expansão da OTAN. Como nos ensinou o fundador do Exército Vermelho, criado para enfrentar a coalizão imperialista, precursora da OTAN, que invadiu a URSS durante a guerra civil após a revolução de 1917:

"EL PATRIOTISMO CHINO ES PROGRESIVO: Para aclarar la cuestión tomemos el caso de una huelga. Nosotros no sostenemos todas las huelgas. Si se trata, por ejemplo, de eliminar de una fábrica, mediante una huelga, a los viejos - sean chinos o japoneses - estamos contra la huelga. Pero si la huelga tiene por objeto mejorar en todo lo que sea posible la situación de los obreros, nosotros somos los primeros en participar en ella, cualquiera sea la dirección. En la gran mayoría de las huelgas, los jefes, los lideres, son reformistas, traidores profesionales, agentes de la burguesía. Ellos se oponen a toda huelga pero a veces son empujados por las masas - por la presión - o por toda la situación objtiva, al camino de la lucha. Imaginemos por un momento a un obrero que diga: "yo no quiero participar en esta huelga, porque los jefes son agentes del capital"; este doctrinario ultraizquierdista debe ser llamado por su propio nombre, un rompehuelgas. El caso de la guerra chino-japonesa es desde este punto de vista un hecho enteramente análogo. Si el Japón es un país imperialista, si la victima del imperialismo es China, nosotros estamos del lado de China. El patriotismo japonés es la máscara del bandídaje mundial. El patriotismo chino es legítimo y progresivo. Poner a los dos en el mismo plano y hablar de socialpatriotismo sólo puede hacerlo quien no ha leído nada de Lenin, quien no ha comprendido la actitud de los bolcheviques durante la guerra imperialista y quien 'no puede más que comprometer y prostituir las enseñanzas del marxismo." (Leon Trotsky, el ultra-esquerdismo y la question nacional, in: Si America Fuera Comunista, 23/09/1937, p. 56).

A "esquerda OTAN", que fica contra a Rússia e com a OTAN e seu fantoche neonazista que é o governo de Kiev, não passa de fura-greves, com disse Trotsky "rompehuelgas", da luta de classes internacional. Por sua vez, o patriotismo da Rússia oprimida pelo expansionismo imperialista e do povo russófono da Ucrânia é progressivo e legítimo.

O neobismarquismo de Putin se fortalece sobre pressão imperialista 

Putin é um politico conservador, mas não é um fascista e inclusive persegue os nacional bolcheviques na Federação Russa, como ficou claro mais acima. A Rússia de Putin, por sua vez, não é mais uma semicolonia, controlada pelo imperialismo, como foi logo após a contrarrevolução social capitalista de 1991, mas também não é um país imperialista, se aproxima mais de um país dependente (designação que Lenin deu a Portugal e Argentina em seu "Imperialismo fase superior do capitalismo), a maior parte de suas exportações são mercadorias (commodities) e não capitais e seu PIB é do tamanho do PIB do Brasil.

Deve-se acrescentar que a política nacional e internacional de Putin é uma espécie de neobismarquismo (O.V. Bismarck realizou a unificação alemã após a vitória na guerra contra a França, em 1871), como visto em seu objetivo de unir os povos de língua russa dentro e fora das fronteiras da Federação Russa. O que é progressivo na medida em que não vai contra as minorias nacionais. O neobismarquismo de Putin também é visto na busca pela “coesão” nacional, neste caso, contra as potências imperialistas do Ocidente e do Japão.

Este neobismarquismo, na medida em que contradiz as potências imperialistas, representa uma vantagem objetiva que deve ser aproveitada pelo proletariado russo e internacional e pelo conjunto dos povos oprimidos. Mas não devemos esquecer seu caráter burguês e conservador como visto na instância ideológica de recuo na igreja ortodoxa e na família burguesa. Num sentido mais amplo, Putin é visto como guardião da “segurança” por parte dos russos, mas também dos sírios, bielorrussos, cazaques, crimeanos, das repúblicas populares ucranianas e sérvios.

O imperialismo nunca renunciou seu caráter russófobo. Desde a fundação da geopolítica pelos teóricos britânicos no início do século XX, o grande capital mundial nunca abandonou sua aspiração à conquista da Heartland que tem a Rússia como o "pivô geográfico da história".

Putin foi frustrado em suas aspirações de integração ao grupo das potências mundiais e excluído do G-7 o qual a Rússia chegou a integrar entre 1997 e 2014, quando se chamou G-8. Depois do golpe de Estado neonazista e russófobo de 2014 na Ucrânia, Putin foi obrigado a reagir retomando a Criméia, de lá para cá a Rússia se tornou o país mais sancionado pelo mercado mundial controlado pelo sistema imperialista da história recente, só comparada a antiga URSS. A nova e maior onda de sanções após o início da guerra por procuração na Ucrânia, quando a Rússia reagiu as articulações para o ingresso de Kiev na OTAN, vem obrigado a Putin ir mais além de onde queria na política de ruptura com o grande capital atlantista.

Putin vem sendo obrigado a nacionalizar corporações internacionais, desdolarizar as transações financeiras e mercantis da Rússia, criar um novo sistema de pagamento fora do Swift, o SPFS, cogitando inclusive retomar o controle do banco central do país das mãos dos banqueiros russos e do FMI. Nesse ponto, entra em choque dois capitalismo, o da decadente financeirização imperialista, do capital financeiro e seus derivativos, e o ascendente da produção de mercadorias e da chamada economia real:


"Andrei Martyanov resumiu assim: “Somente duas coisas definem o mundo: a economia física real e o poder militar, que é seu primeiro derivado. Todo o resto são derivativos, mas você não pode viver de derivativos.” O cassino turbo-capitalista americano acredita em sua própria “narrativa” derivada – que nada tem a ver com a economia real. A UE acabará por ser forçada pela realidade a passar da negação à aceitação. Enquanto isso, o Sul Global estará se adaptando rapidamente ao novo paradigma: a Grande Reinicialização de Davos foi destruída pela Reinicialização Russa." (Pepe Escobar, ‘Rublegas:’ the world’s new resource-based reserve currency).

É obrigação dos verdadeiros bolcheviques não se confundirem com o stalinismo, coveiro do Comitê Central Bolchevique que realizou a Revolução de Outubro de 1917, coveiro da III Internacional e da URSS como pólo de irradiação da revoluçao internacional, grande organizador de derrotas. E é tanto mais ainda obrigatório não confundir o bolchevismo com o fascismo sob a roupagem nacional-blochevista, da nova direita ou do fascismo em geral, o porrete do capital financeiro e imperialista contra a classe trabalhadora, inimigo mortal do comunismo e portanto do bolchevismo. Nem por um instante nossa luta antiimperialistas pela emancipação nacional dos povos oprimidos deve renunciar a luta estratégica pela reconstrução do partido mundial da revolução socialista (que por algum período foram as quatro internacionais) com seções operárias e revolucionárias nacionais, do bolchevismo internacionalista, do programa que aponta: Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!).

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