O retrocesso agro-exportador turbinado na era Lula-Dilma caminha para o esgotamento
Publicado originalmente em O Bolchevique #8, jornal da Liga Comunista, em janeiro de 2012, durante euforia pelo anĂșncio de que o Brasil havia se tornado a 6a economia mundial em tamanho do Produto Interno Bruto.
A frase mais repetida nas Ășltimas semanas por todos os economistas burgueses Ă© que o Brasil “nĂŁo Ă© mais o paĂs do futuro, mas sim do presente”. O cĂĄlculo da classe dominante comissionista brasileira responsĂĄvel por ampliar os Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil Ă© o seguinte: A China Ă© o dĂnamo mundial e cresce de forma descolada e na medida que retraem as economias da UE, EUA e JapĂŁo. NĂłs nos colamos Ă China que Ă© enorme e precisa de muita matĂ©ria prima (commodities) para alimentar seu crescimento. Enquanto nĂłs fornecermos o que a China precisa, acompanharemos o crescimento chinĂȘs de vanguarda econĂŽmica.
Neste quadro, os donos do capital no Brasil giram para a China, que converte-se no principal parceiro comercial brasileiro. Paralelamente, os commodities que respondiam por 40% da pauta de exportação nacional em 1990, atingem a marca de 51% entre 2007 e 2010. Os principais produtos bĂĄsicos exportados pelo paĂs sĂŁo minĂ©rio de ferro, petrĂłleo bruto, carne de frango, cafĂ© em grĂŁo, carne bovina, milho e soja.
Assim, a controversa questĂŁo da “desindustrialização do Brasil”, nĂŁo pode ser encarada como uma mera “tendĂȘncia mundial que atinge a todos”, como justificam alguns analistas - inclusive que se dizem marxistas - para renegar a caracterização marxista de que a classe operĂĄria industrial Ă© o setor do proletariado potencialmente mais revolucionĂĄrio. Em termos absolutos e tambĂ©m em termos relativos, o operariado (enriquecido numericamente pelo operariado da agro-indĂșstria e da mineração) sĂł aumentou de tamanho em todo planeta desde a revolução industrial. TambĂ©m nĂŁo se trata de uma mera barganha da FIESP (embora esta confraria burguesa tire proveito da situação) como analisam os que vĂȘem o fenĂŽmeno sob um ponto de vista mesquinhamente nacional.
Neste quadro, os donos do capital no Brasil giram para a China, que converte-se no principal parceiro comercial brasileiro. Paralelamente, os commodities que respondiam por 40% da pauta de exportação nacional em 1990, atingem a marca de 51% entre 2007 e 2010. Os principais produtos bĂĄsicos exportados pelo paĂs sĂŁo minĂ©rio de ferro, petrĂłleo bruto, carne de frango, cafĂ© em grĂŁo, carne bovina, milho e soja.
Capa de O Bolchevique #8, de janeiro de 2012 |
Assim, a controversa questĂŁo da “desindustrialização do Brasil”, nĂŁo pode ser encarada como uma mera “tendĂȘncia mundial que atinge a todos”, como justificam alguns analistas - inclusive que se dizem marxistas - para renegar a caracterização marxista de que a classe operĂĄria industrial Ă© o setor do proletariado potencialmente mais revolucionĂĄrio. Em termos absolutos e tambĂ©m em termos relativos, o operariado (enriquecido numericamente pelo operariado da agro-indĂșstria e da mineração) sĂł aumentou de tamanho em todo planeta desde a revolução industrial. TambĂ©m nĂŁo se trata de uma mera barganha da FIESP (embora esta confraria burguesa tire proveito da situação) como analisam os que vĂȘem o fenĂŽmeno sob um ponto de vista mesquinhamente nacional.
Mais do que a desindustrialização do Ocidente, trata-se da industrialização da China e alguns paĂses vizinhos. A chamada terceira divisĂŁo mundial do trabalho muda o eixo de produção mundial para o oriente, que se converte em indĂșstria planetĂĄria (e a conversĂŁo da China em maior parceiro comercial do Brasil em 2009 sĂł acentuou a desindustrialização do Brasil, basta ver o que aconteceu com a indĂșstria de calçados, tĂȘxteis e de brinquedos apesar dos subsĂdios do Estado brasileiro a estes ramos). Embora na maioria dos paĂses ocidentais o setor de serviços se fortaleça em detrimento da indĂșstria (o que expressa tambĂ©m um perĂodo de longa retração econĂŽmica imperialista), Ă© preciso notar que a desindustrialização tambĂ©m Ă© um elemento que reflete a recolonização do Brasil.
Se em 1980, o parque industrial brasileiro era maior que o da TailĂąndia, da MalĂĄsia, da CorĂ©ia do Sul e da China somados, em 2010, a indĂșstria brasileira recuava para menos de 15% do que esses paĂses somados produziram. A tentativa de converter o Brasil em indĂșstria regional da AmĂ©rica do Sul na dĂ©cada de 1990 foi estrangulada pelo crescimento da China. Foi entĂŁo que no governo Lula se impĂŽs o curso da primarização da pauta de exportação do Brasil. O retrocesso reflete uma espĂ©cie de volta ao sistema de plantation (quando o Brasil exportava cana e comprava açĂșcar). No campo mineral, por exemplo, o Brasil representa cerca de 75% do comĂ©rcio mundial de minĂ©rio de ferro, mas apenas 2% do comĂ©rcio total de aço. Agora exporta ferro e compra aço.
Longe do que apregoa a cantilena oficial, o chamado crescimento brasileiro nĂŁo se apĂłia em “fundamentos sĂłlidos”, mas sobre bases que o governo nĂŁo tem o menor controle, como o fluxo de capitais externos e o momentĂąneo alto preços das commodities. O controle de capitais no Brasil e, obviamente, de todos os paĂses imperializados de uma maneira geral, nĂŁo passa de uma formalidade fraudulenta. Como se diz no mundo dos negĂłcios tupiniquins, os IEDs que recolhem o IOF (Imposto sobre OperaçÔes de CrĂ©dito, CĂąmbio e Seguros) Ă© porque tĂȘm um mau contador. Assim que a marĂ© mudar lĂĄ vem o Brasil descendo a ladeira. E o “boom” dos preços das commodities que tem sustentado os saldos comerciais e vem beneficiando os governos Lula-Dilma desde 2004 parece estar se esgotando.
“A turbosoja desacelera. Outro esgotamento iminente Ă© o boom da soja brasileira. Isto ainda nĂŁo estĂĄ evidente. Espera-se que em 2012 a produção que alimenta a China alcance 78 milhĂ”es de toneladas (ante 75,5 milhĂ”es de 2011). Parte do aumento Ă© devido Ă adoção crescente de uma nova variedade de soja com crescimento rĂĄpido, que matura em 90 dias em comparação com os 120 do grĂŁo tradicional. Isto irĂĄ permitir ao Brasil dar um salto tambĂ©m na produção de milho, uma vez que uma grande ĂĄrea usada pela soja poderĂĄ estar disponĂvel para uma segunda colheita. Considerando todas as culturas, as exportaçÔes extensivas de outubro de 2010 a setembro de 2011 faturaram US$ 85 bilhĂ”es. Isso representou um aumento de 33,6% em relação ao perĂodo anterior. Curiosamente, esta melhoria deveu-se ao aumento mĂ©dio de 25,9% no preço do dĂłlar e apenas 6,1% em volume de exportação. A lucratividade baseada nos preços externos nĂŁo vai durar para sempre’, adverte Rubens Ricupero [ex-ministro da Fazenda do governo Itamar que caiu porque falou demais]. E recorda que “atĂ© a aparição da China, os mercados tinham um crescimento orgĂąnico muito pequeno’. Como exemplo, menciona que “o cafĂ© nĂŁo conheceu esta demanda e cresce apenas um ou dois pontos anuais”. Como resultado temos o Brasil, o grande produtor de cafĂ© tambĂ©m e ‘o segundo maior mercado consumidor do produto porque os chineses atĂ© agora nĂŁo tomam muito cafĂ©’ [o crescimento da indĂșstria cafeeira nacional Ă© uma referĂȘncia real para as perspectivas do crescimento de qualquer ramo da produção nacional baseada no mercado interno, mesmo se tratando do cafĂ© que, depois da cana de açĂșcar e atĂ© a crise de 1929, quando o cafĂ© representava 70% de tudo que o Brasil exportava, foi o principal produto de exportação nacional, a soja da Ă©poca]. No caso da soja, os problemas no horizonte imediato sĂŁo “internos”: os custos de produção seguem crescendo. Um deles Ă© fundamental: a quantidade de fertilizantes* que devem ser usados nas terras tropicais, naturalmente pobres em nutrientes, Ă© muito grande: 450 kg por hectare. Onze vezes mais que na Argentina (40 kg) e quinze vezes mais que nos EUA (30 kg). Logo, estĂŁo aĂ os limites fĂsicos. Segundo a Aprosoja, a associação que nucleia aos produtores (sic), na Ășltima dĂ©cada a produção subiu 200%, no entanto a ĂĄrea plantada aumentou apenas 48%. Este Ă© o resultado da contribuição da biotecnologia e das tĂ©cnicas de plantio direto, ferramentas que jĂĄ deram sua maior contribuição. Do ponto de vista da expansĂŁo mesma, ela tem sido fundamentalmente atravĂ©s da colonização, para uns, ou de destruição, para outros, de grande parte da vasta zona conhecida como “Cerrado”, uma savana tropical de quase dois milhĂ”es de km quadrados, que ocupa o centro-sul do paĂs, equivalente em tamanho a seis Alemanhas ou a duas Venezuelas. Desta forma, alguns analistas tĂȘm advertido que tal exploração nĂŁo seria financeiramente sustentĂĄvel em alguns setores do Cerrado sem o apoio financeiro estatal. Para Silvia Matos, ‘nosso problema crĂŽnico Ă© que o custo Brasil jĂĄ estaria afetando o agronegĂłcio’. As vantagens comparativas, ‘apesar de todos nossos problemas logĂsticos, o custo tributĂĄrio e o boom dos preços (efeito China) permitiram um crescimento muito bom no setor, mas acredito que este tambĂ©m estĂĄ se esgotando.” (America Economia, Edição internacional, janeiro de 2012).
Embora alguns economistas esperem compensar a decadĂȘncia prevista no preço das commodities com o petrĂłleo do prĂ©-sal, nĂŁo Ă© por demais lembrar que “dada a quantidade de investimentos necessĂĄrios, certamente a exploração do petrĂłleo do prĂ©-sal retirarĂĄ recursos de outros setores, podendo inviabilizĂĄ-los a longo prazo.” (idem).
O esgotamento da primarização do Brasil. Apesar das dimensĂ”es do paĂs, a fronteira agrĂcola nĂŁo Ă© lĂĄ muito grande. “O solo da AmazĂŽnia possui uma fina e Ășnica camada de nutrientes, portanto se esta for retirada, os minĂ©rios e sais presentes na terra acabam deixando o solo improdutivo e irreversĂvel. ApĂłs a colheita da soja, o correto a se fazer seria deixar o solo “descansar” para recuperar os nutrientes perdidos durante a plantação, mas os latifundiĂĄrios continuam plantando, visando o lucro imediato. Os estados do ParĂĄ, RondĂŽnia e Mato Grosso, sĂŁo responsĂĄveis pela quase totalidade da soja plantada no bioma AmazĂŽnia. SĂł o estado de Mato Grosso concentra 90% do cultivo, e estĂĄ sendo ocupado por produtores rurais, na maioria descendentes dos migrantes do Sul, que desenvolvem o chamado agronegĂłcio. O avanço da fronteira agrĂcola tem como principal combustĂvel o consumo de grĂŁos por EUA, Europa e a Ăsia, que tĂȘm poucas ĂĄreas para expandir sua agricultura. A China, por exemplo, estĂĄ recentemente aumentando o seu consumo de carne bovina, suĂna e aves, e estas sĂŁo alimentadas com ração de soja produzida no Brasil.” (ThaĂs Morioka e Lucas NegrĂŁo, A infreĂĄvel fronteira agrĂcola). NĂŁo por acaso, a plantação sojeira que obteve maior rentabilidade no cerrado avança impiedosamente sobre as terras indĂgenas do Mato Grosso do Sul e no Paraguai onde os maiores plantadores de soja sĂŁo brasiguaios. Em outras palavras a manutenção do modelo agro-exportador da turbosoja brasileira comissionista da Cargill, da Bung, etc. requer uma expansĂŁo do uso da terra rumo Ă s fronteiras agrĂcolas do Paraguai e quiçå Uruguai por parte do latifĂșndio “brasileiro”. Em resumo, na melhor das hipĂłteses, o Brasil “potĂȘncia” revive algo parecido com o ciclo de crescimento anterior Ă crise de 1930 baseado em um modelo agro-exportador, aquĂ©m inclusive da industrialização de economia substitutiva pĂłs-segunda guerra mundial.
* NĂŁo Ă© a toa que o Brasil Ă© o maior importador mundial de fertilizantes. 90% dos fertilizantes usados na produção agrĂcola nacional Ă© importada. Este volume estĂĄ bem acima do que Ă© importado por outros paĂses com elevada produção de alimentos. Por sua vez, apenas trĂȘs multinacionais controlam a venda de fertilizantes para o Brasil, sĂŁo a Bunge, a Cargill e a Yara.
Longe do que apregoa a cantilena oficial, o chamado crescimento brasileiro nĂŁo se apĂłia em “fundamentos sĂłlidos”, mas sobre bases que o governo nĂŁo tem o menor controle, como o fluxo de capitais externos e o momentĂąneo alto preços das commodities. O controle de capitais no Brasil e, obviamente, de todos os paĂses imperializados de uma maneira geral, nĂŁo passa de uma formalidade fraudulenta. Como se diz no mundo dos negĂłcios tupiniquins, os IEDs que recolhem o IOF (Imposto sobre OperaçÔes de CrĂ©dito, CĂąmbio e Seguros) Ă© porque tĂȘm um mau contador. Assim que a marĂ© mudar lĂĄ vem o Brasil descendo a ladeira. E o “boom” dos preços das commodities que tem sustentado os saldos comerciais e vem beneficiando os governos Lula-Dilma desde 2004 parece estar se esgotando.
“A turbosoja desacelera. Outro esgotamento iminente Ă© o boom da soja brasileira. Isto ainda nĂŁo estĂĄ evidente. Espera-se que em 2012 a produção que alimenta a China alcance 78 milhĂ”es de toneladas (ante 75,5 milhĂ”es de 2011). Parte do aumento Ă© devido Ă adoção crescente de uma nova variedade de soja com crescimento rĂĄpido, que matura em 90 dias em comparação com os 120 do grĂŁo tradicional. Isto irĂĄ permitir ao Brasil dar um salto tambĂ©m na produção de milho, uma vez que uma grande ĂĄrea usada pela soja poderĂĄ estar disponĂvel para uma segunda colheita. Considerando todas as culturas, as exportaçÔes extensivas de outubro de 2010 a setembro de 2011 faturaram US$ 85 bilhĂ”es. Isso representou um aumento de 33,6% em relação ao perĂodo anterior. Curiosamente, esta melhoria deveu-se ao aumento mĂ©dio de 25,9% no preço do dĂłlar e apenas 6,1% em volume de exportação. A lucratividade baseada nos preços externos nĂŁo vai durar para sempre’, adverte Rubens Ricupero [ex-ministro da Fazenda do governo Itamar que caiu porque falou demais]. E recorda que “atĂ© a aparição da China, os mercados tinham um crescimento orgĂąnico muito pequeno’. Como exemplo, menciona que “o cafĂ© nĂŁo conheceu esta demanda e cresce apenas um ou dois pontos anuais”. Como resultado temos o Brasil, o grande produtor de cafĂ© tambĂ©m e ‘o segundo maior mercado consumidor do produto porque os chineses atĂ© agora nĂŁo tomam muito cafĂ©’ [o crescimento da indĂșstria cafeeira nacional Ă© uma referĂȘncia real para as perspectivas do crescimento de qualquer ramo da produção nacional baseada no mercado interno, mesmo se tratando do cafĂ© que, depois da cana de açĂșcar e atĂ© a crise de 1929, quando o cafĂ© representava 70% de tudo que o Brasil exportava, foi o principal produto de exportação nacional, a soja da Ă©poca]. No caso da soja, os problemas no horizonte imediato sĂŁo “internos”: os custos de produção seguem crescendo. Um deles Ă© fundamental: a quantidade de fertilizantes* que devem ser usados nas terras tropicais, naturalmente pobres em nutrientes, Ă© muito grande: 450 kg por hectare. Onze vezes mais que na Argentina (40 kg) e quinze vezes mais que nos EUA (30 kg). Logo, estĂŁo aĂ os limites fĂsicos. Segundo a Aprosoja, a associação que nucleia aos produtores (sic), na Ășltima dĂ©cada a produção subiu 200%, no entanto a ĂĄrea plantada aumentou apenas 48%. Este Ă© o resultado da contribuição da biotecnologia e das tĂ©cnicas de plantio direto, ferramentas que jĂĄ deram sua maior contribuição. Do ponto de vista da expansĂŁo mesma, ela tem sido fundamentalmente atravĂ©s da colonização, para uns, ou de destruição, para outros, de grande parte da vasta zona conhecida como “Cerrado”, uma savana tropical de quase dois milhĂ”es de km quadrados, que ocupa o centro-sul do paĂs, equivalente em tamanho a seis Alemanhas ou a duas Venezuelas. Desta forma, alguns analistas tĂȘm advertido que tal exploração nĂŁo seria financeiramente sustentĂĄvel em alguns setores do Cerrado sem o apoio financeiro estatal. Para Silvia Matos, ‘nosso problema crĂŽnico Ă© que o custo Brasil jĂĄ estaria afetando o agronegĂłcio’. As vantagens comparativas, ‘apesar de todos nossos problemas logĂsticos, o custo tributĂĄrio e o boom dos preços (efeito China) permitiram um crescimento muito bom no setor, mas acredito que este tambĂ©m estĂĄ se esgotando.” (America Economia, Edição internacional, janeiro de 2012).
Embora alguns economistas esperem compensar a decadĂȘncia prevista no preço das commodities com o petrĂłleo do prĂ©-sal, nĂŁo Ă© por demais lembrar que “dada a quantidade de investimentos necessĂĄrios, certamente a exploração do petrĂłleo do prĂ©-sal retirarĂĄ recursos de outros setores, podendo inviabilizĂĄ-los a longo prazo.” (idem).
O esgotamento da primarização do Brasil. Apesar das dimensĂ”es do paĂs, a fronteira agrĂcola nĂŁo Ă© lĂĄ muito grande. “O solo da AmazĂŽnia possui uma fina e Ășnica camada de nutrientes, portanto se esta for retirada, os minĂ©rios e sais presentes na terra acabam deixando o solo improdutivo e irreversĂvel. ApĂłs a colheita da soja, o correto a se fazer seria deixar o solo “descansar” para recuperar os nutrientes perdidos durante a plantação, mas os latifundiĂĄrios continuam plantando, visando o lucro imediato. Os estados do ParĂĄ, RondĂŽnia e Mato Grosso, sĂŁo responsĂĄveis pela quase totalidade da soja plantada no bioma AmazĂŽnia. SĂł o estado de Mato Grosso concentra 90% do cultivo, e estĂĄ sendo ocupado por produtores rurais, na maioria descendentes dos migrantes do Sul, que desenvolvem o chamado agronegĂłcio. O avanço da fronteira agrĂcola tem como principal combustĂvel o consumo de grĂŁos por EUA, Europa e a Ăsia, que tĂȘm poucas ĂĄreas para expandir sua agricultura. A China, por exemplo, estĂĄ recentemente aumentando o seu consumo de carne bovina, suĂna e aves, e estas sĂŁo alimentadas com ração de soja produzida no Brasil.” (ThaĂs Morioka e Lucas NegrĂŁo, A infreĂĄvel fronteira agrĂcola). NĂŁo por acaso, a plantação sojeira que obteve maior rentabilidade no cerrado avança impiedosamente sobre as terras indĂgenas do Mato Grosso do Sul e no Paraguai onde os maiores plantadores de soja sĂŁo brasiguaios. Em outras palavras a manutenção do modelo agro-exportador da turbosoja brasileira comissionista da Cargill, da Bung, etc. requer uma expansĂŁo do uso da terra rumo Ă s fronteiras agrĂcolas do Paraguai e quiçå Uruguai por parte do latifĂșndio “brasileiro”. Em resumo, na melhor das hipĂłteses, o Brasil “potĂȘncia” revive algo parecido com o ciclo de crescimento anterior Ă crise de 1930 baseado em um modelo agro-exportador, aquĂ©m inclusive da industrialização de economia substitutiva pĂłs-segunda guerra mundial.
* NĂŁo Ă© a toa que o Brasil Ă© o maior importador mundial de fertilizantes. 90% dos fertilizantes usados na produção agrĂcola nacional Ă© importada. Este volume estĂĄ bem acima do que Ă© importado por outros paĂses com elevada produção de alimentos. Por sua vez, apenas trĂȘs multinacionais controlam a venda de fertilizantes para o Brasil, sĂŁo a Bunge, a Cargill e a Yara.
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