O Bolsonarismo veio para ficar?
O Bolsonarismo veio para ficar?
David Lapa
A burguesia brasileira que sempre alimentou preconceitos contra os que oprimia, encontrou no bolsonarismo seu representante político mais descarado. Historicamente, os capitalistas brasileiros nascem escravistas e coloniais, violentos a ponto de matar no pelourinho seus escravos e ao mesmo tempo lambe botas dos seus amos do norte. Bolsonaro faz a política burguesa crua, de ataque aos trabalhadores e as minorias. Nunca em toda história recente brasileira um governante atacou de forma tão aberta e sem nenhum escrúpulo ou pudor as minorias, gozando do apoio de boa parcela da população.
O bolsonarismo se mostrou capaz de representar esse setor de fanáticos composto por nada menos que 11% dos eleitores (dados da pesquisa DataFolha de setembro de 2021). Segundo o TSE o eleitorado brasileiro é composto de 148 milhões de pessoas. Essa parcela corresponde a pouco menos de 15 milhões de brasileiros que permanecem fiéis ao seu mito, independentemente do que ele faça ou deixe de fazer, que concorda com sua politica de ódio contra trabalhadoras, pobres, negros, indígenas e outras “minorias” que compõe a maioria da população brasileira.
Foi bem maior em 2018. Decresceu durante o mandato. Bolsonaro se elegeu com 57 milhões de votos. Em setembro de 2021 havia perdido mais de 40 milhões de eleitores. Poderá continuar perdendo ou recuperar parte disso até as eleições de 2022. Mas, que outro líder ou partido do capital possui essa influência de massas no Brasil?
O auge das ameaças golpistas do movimento foi o 7 de setembro de 2021, quando só dispunham desses 15 milhões de apoiadores fiéis, mas não foram acompanhados pela Faria Lima, pela grande mídia e pelos militares. O que fez o golpe naufragar. Mas, o movimento segue recorrendo a chantagem do golpe, como sempre, caso percam as eleições. Ameaçam fazer de forma bem sucedida o que Trump não conseguiu com o assalto ao Capitólio em janeiro de 2021.
Para a direita oficial e os setores econômicos a política neoliberal está sendo implementada com sucesso. A destruição dos direitos históricos dos trabalhadores, privatizações, altos índices de desemprego e fome tem gerado uma alta lucratividade, os investimentos externos dobraram em 2021. Toda essa acumulação de capitais às custas da miséria dos trabalhadores promoveu 42 capitalistas a se tornaram novos bilionários em 2021. Tudo isso tem sido assegurado com um requinte de crueldade, como o atraso da vacinação de adultos e crianças, e comentários proferidos por todos do governo que são verdadeiros escárnio contra o povo pobre e trabalhador. Foi Bolsonaro quem conseguiu aprovar a tão sonhada reforma previdenciária que a greve geral de 28 de abril de 2017 não deixou Temer aprovar.
O bolsonarismo veio para ficar, até porque ele é apenas a forma mais recente e atual do escravismo colonial histórico, a que hoje controla o governo federal, o Estado brasileiro e seu aparato repressivo militar, policial e miliciano. O racismo atual é sucessor do escravismo colonial, é parte da
exploração capitalista, justificando-a pela desumanização dos explorados.
A política de colaboração com os escravistas modernos realizada pelo PT não pode derrotar o bolsonarismo. Lula pode derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo até se revigorar, como está acontecendo com trumpismo nos EUA. Seguiremos décadas de luta contra essa política entranhada em todos os setores da sociedade brasileira. Não há como negar a sua influência em setores como as Forças Armadas, empresariado, banqueiros, agronegócio (o velho latifúndio capitalista assassino) além das milícias urbana e no campo, com forte apoio das igrejas neopentecostais, carismáticos e setores tradicionais da igreja católica. Não só Sérgio Moro, como grande parte do judiciário catapultou o bolsonarismo. A única coisa que falta a esse movimento reacionário, é ainda um Partido para chamar de seu, mas vem se mantendo no governo com os mesmos partidos fisiológicos que controlam o Congresso desde a ditadura militar e agora tem garantido a governabilidade no caos.
No plano externo, o bolsonarismo foi impulsionado por Trump, pela ala republicana do imperialismo estadunidense. Está ligado a extrema direita internacional, defendendo o negacionismo, as bandeiras anti vacinas, anti China e o anti-comunismo. Eles têm mantido contato com os partidos de extrema direita da Europa, o sionismo e nazistas.
A maior parte da esquerda reconhece apenas formalmente que houve golpe em 2016. Suas direções continuaram seguindo com seu projeto eleitoreiro, vendo tudo isso simplesmente como um fenômeno bizarro, que serve de munição para seu retorno ao governo em uma frente mais ampla do que a dos governos Lula e Dilma, agora com setores que eram adversários do PT, como tucanos e o DEM, que estiveram na linha de frente dos golpistas. Estão costurando um governo de colaboração com os golpistas que não se comprometa seriamente em anular as medidas anti-trabalhadores promovida pelos golpistas e que possa manter os atuais níveis de exploração da classe trabalhadora. PT, PCdoB, PSOL se negam a seguir os tradicionais métodos de luta da classe trabalhadora. Depositam toda sua esperança na suposta eleição de Lula. Parecendo não terem aprendido nada com o que houve, acreditam que os mesmos que realizaram o golpe, elegeram Bolsonaro, incluindo os milhares de cargos ocupados hoje por militares, vão simplesmente repactuar com a conciliação de classes do PT como se nada tivesse ocorrido.
O Partido dos Trabalhadores que surgiu como um partido classista (“Trabalhador vota em trabalhador”; “PT, partido sem patrão”), a cada eleição se afasta da defesa dos interesses da classe trabalhadora para ceder a ofensiva neoliberal e agora golpista, ou seja, que permite superlucros aos patrões. Mais uma vez estão fazendo o jogo de atender aos interesses da burguesia para garantir a governabilidade. O bolsonarismo com ou sem Bolsonaro veio para ficar, para governar, fazer oposição dura a esquerda ou dar golpe quando for possível. Preparemos nossa classe para enfrentar e vencer essa realidade.
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