Borba Gato e o simbolismo da barbárie
Borba Gato e o simbolismo da barbárie
Mário Maestri, HistoriadorBorba Gato (1649–1718) foi um “empreendedor” de sucesso na transição do século 17 ao 18, no início da exploração aurífera no Brasil Central. Sua fortuna nasceu da exploração, sobretudo do nativo escravizado, e da representação do tacão colonial lusitano na região. Foi mais um “empresário” de sucesso da ordem escravista, substrato da atual despótica organização capitalista. Seu resgate como figura histórica referencial consolida a proposta da permanência e imutabilidade da sociedade de classes no Brasil. A homenagem à exploração no passado consolida a ordem atual. A grotesca estátua na avenida Santo Amaro, em São Paulo, do bandeirante tendo à mão o bacamarte, instrumento-simbolo da opressão social na sua época, tornou-se importante ponto de confluência da disputa histórica, política e simbólica mais ampla entre o Mundo do Trabalho e o Mundo do Capital.
Sob as chamas, a estátua de grotesco mau gosto foi re-semantizada, para usar palavra moderninha. De símbolo da barbárie se transformou em símbolo da resistência. As fotos e filmes da estátua de Borba Gato em fogo percorreram o Brasil, avivando a discussão sobre a barbárie social atual, através do questionamento de personagem do passado distante já de difícil defesa, mesmo para importantes setores da intelectualidade e da mídia conservadora. Paradoxalmente, de certo modo, pouco importa quem acendeu o isqueiro e ateou o fogo. O ato tem sentido e valor intrínsecos.
Mas há um fato novo. Com o movimento social retomando a marcha, após longos anos do “saia da rua” e “fique em casa”, a própria esquerda institucional modula sua visão sobre essa “ação direta”. Juliano Medeiros, presidente do Psol, que jamais pecou por qualquer radicalismo, declarou sobre a queimação: "O que significa queimar a estátua de um assassino diante do ato de erguer uma estátua para um assassino?” Parabéns para ele. Mas não faltou “baba ovo” da dita ordem constituída que se propõem de esquerda.
Aldo Rebelo, ex-ministro petista da Defesa, da Articulação Política e do Esporte, ex-elevado dirigente do PC do B, que hoje não sabemos onde anda, seguiu se esforçando em prestar serviço aos poderosos. Ele despotricou no Twitter. “Canalhas, bandidos, assassinos da memória nacional. (sic) Vejam que não molestam as dezenas de imitações de ´estátuas da liberdade´ espalhadas pelo Brasil, escolhem a obra de artista brasileiro, um símbolo da história e da identidade da cidade de São Paulo.” (Registre-se que faz apologia indireta do incêndio de monumentos em “propriedade privada”.)
As defesas à incolumidade do monumento ao genocida são diversas. Alguns, propondo respeito a todos os monumentos culturais, procuram colocar no cabestro a fúria e a indignação popular, impugnando, entre outras ações, a derrubada de símbolos e monumentos quando da vitória sobre o nazi-fascismo. Outros propõem que esses monumentos sejam colocados em museus especiais que exponham e denunciem os elogios à violência e à barbárie social. Idéia retórica e utópica. Em todo caso, espera-se que iniciem movimento pela retirada oficial de monumentos e homenagens semelhantes, como os levantados em honra ao Duque de Caxias, a Tamandaré, ao Conde d´Eu, a Castelo Branco, a Costa e Silva, para nos referirmos apenas a personagens históricos mais conhecidos da sociedade de classes no Brasil.
Sob as chamas, a estátua de grotesco mau gosto foi re-semantizada, para usar palavra moderninha. De símbolo da barbárie se transformou em símbolo da resistência. As fotos e filmes da estátua de Borba Gato em fogo percorreram o Brasil, avivando a discussão sobre a barbárie social atual, através do questionamento de personagem do passado distante já de difícil defesa, mesmo para importantes setores da intelectualidade e da mídia conservadora. Paradoxalmente, de certo modo, pouco importa quem acendeu o isqueiro e ateou o fogo. O ato tem sentido e valor intrínsecos.
Mas há um fato novo. Com o movimento social retomando a marcha, após longos anos do “saia da rua” e “fique em casa”, a própria esquerda institucional modula sua visão sobre essa “ação direta”. Juliano Medeiros, presidente do Psol, que jamais pecou por qualquer radicalismo, declarou sobre a queimação: "O que significa queimar a estátua de um assassino diante do ato de erguer uma estátua para um assassino?” Parabéns para ele. Mas não faltou “baba ovo” da dita ordem constituída que se propõem de esquerda.
Aldo Rebelo, ex-ministro petista da Defesa, da Articulação Política e do Esporte, ex-elevado dirigente do PC do B, que hoje não sabemos onde anda, seguiu se esforçando em prestar serviço aos poderosos. Ele despotricou no Twitter. “Canalhas, bandidos, assassinos da memória nacional. (sic) Vejam que não molestam as dezenas de imitações de ´estátuas da liberdade´ espalhadas pelo Brasil, escolhem a obra de artista brasileiro, um símbolo da história e da identidade da cidade de São Paulo.” (Registre-se que faz apologia indireta do incêndio de monumentos em “propriedade privada”.)
As defesas à incolumidade do monumento ao genocida são diversas. Alguns, propondo respeito a todos os monumentos culturais, procuram colocar no cabestro a fúria e a indignação popular, impugnando, entre outras ações, a derrubada de símbolos e monumentos quando da vitória sobre o nazi-fascismo. Outros propõem que esses monumentos sejam colocados em museus especiais que exponham e denunciem os elogios à violência e à barbárie social. Idéia retórica e utópica. Em todo caso, espera-se que iniciem movimento pela retirada oficial de monumentos e homenagens semelhantes, como os levantados em honra ao Duque de Caxias, a Tamandaré, ao Conde d´Eu, a Castelo Branco, a Costa e Silva, para nos referirmos apenas a personagens históricos mais conhecidos da sociedade de classes no Brasil.
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