Bielorrússia é a bola da vez das Revoluções Coloridas
Revoluções Coloridas”: Bielorrússia como a Bola da Vez
Por Mário Maestri*
+ sobre o tema
30 de agosto de 2020
GUERRA HÍBRIDA NO LÍBANO, BIELORÚSSIA, ARGENTINA
Declaração do Comitê de Ligação pela IV Internacional
Sobre a Bielorrússia, não apenas no Brasil, reina muita confusão nas filas democráticas, progressistas e revolucionárias, que, em geral, apoiam a ofensiva imperialista, propondo defender “movimento popular democrático” contra Alexander Lukashenko e seu regime, que desconhecem a “democracia representativa”. Raros analistas abordam a complexidade nacional e internacional bielorrussa e o projeto de sua subjunção total ao grande capital.
Essa contradição se apresenta nas posições antagônicas de dois intelectuais da tendência Resistência do PSOL (trotskista). Frederico Costa, 54, coordenador-geral do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário e professor orientador no curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Ceará, denuncia o ataque imperialista à Bielorrússia. Valério Arcary, 67, doutor em História pela USP e professor aposentado do IFSP, por décadas porta-voz do PSTU-LIT, apoia firmemente a queda de Lukashenko.
Inicio meu comentário apoiando-me no artigo impecável de Frederico Costa, “Nem tudo que reluz é ouro: a luta pela 'democracia' na Bielorrússia”, sobre os fatos iniciados com a reeleição, com 80% dos votos, em 9 de agosto, do ex-burocrata estalinista Alexander Lukashenko, 66, no poder desde a dissolução da URSS. (1) A principal opositora de Lukashenko foi a jovem e midiática Svetlana Tikhanovskaya, 38, professora de inglês, pró-liberal e pró-União Européia. Após o escrutínio, ela fugiu para a Lituânia, onde tropas USA e da OTAN estão aquarteladas ao longo da fronteira russa.
O cômputo esdrúxulo dos votos alavancou o início de esboço de “revolução de veludo”, sem o fôlego esperado, apesar do apoio da grande mídia liberal, dos Estados imperialistas e de boa parte da esquerda mundial. O movimento seguiu o script tradicional. Manifestantes sobretudo de classe média saíram às ruas denunciando a corrupção e a falta de democracia. Alguns agitavam a bandeira branca e vermelha da contra-revolucionária República Popular Bielorrussa, de curta vida, sustida pela Alemanha na I Guerra Mundial. Os bielorrussos de ascendência polonesa eram abundantes entre os manifestantes nacionalistas pró-liberais e anti-russos, não muito numerosos.
Frederico Costa destaca a singularidade da Bielorrússia. O país, com dez milhões de habitantes (78% bielorrussos, 16% russos, 5% poloneses, 2,3% de ucranianos), com vastas florestas intocadas, fortemente urbanizado e industrializado, possui uma das mais equilibradas divisão social européia da riqueza. A educação e o ensino são gratuitos, a alfabetização é quase total, a água e a luz são subvencionadas pelo Estado. O país, classificado como “muito desenvolvido”, não viveu a crise de 2008-2010.
Nada de privatizações
O governo bielorrusso, nascido da desagregação capitalista da URSS, em 1991, não procedeu à liberalização e privatização dos bens públicos e, sobretudo, do parque industrial, que seguiu produzindo tratores, autopeças, refrigeradores, componentes eletrônicos, etc. A população escapou, assim, da miséria e exploração nascidas da dissolução liberal da URSS. O que explica o enorme apoio que Lukashenko contou durante longos anos, para horror do Ocidente liberal. Nas eleições de 9 de agosto, teria recebido efetivamente de 30 a 60% dos votos, exigindo porém os 80% para superar os 76,7% recebidos na Rússia por Putin, em 2018!
Na última década, os USA e a União Européia acirraram o assédio à Bielorrússia. O Estado polonês de ultra-direita persegue hegemonia regional sobre a Ucrânia, a Lituânia e a Bielorrúsia - “estratégia ULB”. Desde 2006, dez mil jovens bielorussos liberais foram treinados na Polônia. Desde 2010, aquele governo financia canal televisivo Bielsat que transmite para a Bielorrússia. É ledo engano propor movimento anti-Lukashenko expontâneo. Apesar de tudo, é diminuto o sentimento anti-russo no país. A República Socialista Soviética da Bielorrússia foi a primeira organização nacional estável da região, após ela manter-se por séculos sob a suserania polaca e, a seguir, tzarista.
No final da II Guerra, a “Bielorrússia Ocidental”, sob o domínio polonês, foi integrada à República Soviética da Bielorrússia, o que o nacionalismo pan-polonês não perdoa. A população do país viveu bem a Era Soviética, que lhe garantiu independência nacional, industrialização e condições médias de existência superiores às da própria Rússia de então. Recebeu fornecimento permanente de petróleo-gás russo a baixíssimo preço. O país refina e exporta o petróleo bruto russo, com altos lucros. Putin suou para obter de Lukashenko aumento de 150% do preço do gás russo, ainda 50% abaixo do valor normal de venda. O débito externo é sobretudo com a Rússia, que recebe quase 50% das exportações da Bielorrússia, onde há em torno de 2.500 empresas mistas ou de capital russo.
Situação e oposição brigam em russo
Para horror do nacionalismo bielorrusso, mais de 80% da população usa a língua russa em praticamente todas as esferas da vida social. A língua bielorrussa é de uso restrito. A campanha eleitoral deu-se em russo. As consignas anti-Rússia são raras nas manifestações, devido aos laços históricos, culturais e econômicos com o primo-irmão do Leste. A mídia mundial e a esquerda desinformada apresentam Lukashenko como criatura de Putin. Porém, as relações entre ambos jamais foram harmoniosas.
Durante a campanha, como fazia há muito, Lukashenko denunciou a “ingerência” russa nas questões nacionais, para justificar sua política e poder. Nas últimas décadas, “namorou” com o Ocidente, para melhor “escorchar” a Rússia, terminando por inviabilizar a proposta de aliança institucional dos dois Estados, inicialmente com grande apoio popular. Ela garantiria que a Bielorrússia não terminasse nos braços da OTAN. Putin e o governo da Federação Russa têm em Lukashenko um aliado necessário, mas pouco amado.
Para a Rússia, uma “revolução colorida”, com governo pró-imperialista, seria um golpe terrível. Gasodutos russos passam pelo país. Fecharia-se o cerco militar na fronteira oeste, tradicional porta de invasões da Rússia, com duas bases estratégicas na Bielorrússia, país de onde importa componentes para sua indústria bélica. A OTAN, a União Européia e o imperialismo acirram a pressão sobre a Rússia para que retorne à subalternidade da Era Yeltsin (1991-1999), rompendo as relações privilegiadas com a China. A pequena república faz parte da ofensiva pela restauração do mundo monopolar dos anos seguintes à destruição da URSS.
Por que a ofensiva recuou?
Em 2015, a economia bielorrussa entrou em recessão, depois de vinte anos de crescimento. Aumentou o desemprego na área privada da economia. Com o Covil-19, bielorrussos desempregados retornaram do exterior. Espera-se queda de -5% da economia neste ano. O prestígio de Lukashenko, “pai” da Bielorrússia, tendeu a corroer-se, sobretudo entre as novas gerações das classes médias. Sua defesa do combate à Covid-19 com vodka e sauna e a auto-glorificação com os 80% dos votos criaram as condições para o ensaio de uma “revolução de veludo”.
Entretanto, o movimento não se consolidou devido a causas internas e externas convergentes. É grande a discordância política geral entre os manifestantes. Há os desgostosos com Lukashenko; os neo-liberais; os nacionalistas anti-russos; os inspirados pela Polônia, etc. A classe trabalhadora, que tem muito a perder, não saiu às ruas numerosa para atacar ou defender o presidente eterno.
A intervenção de Putin foi multifocal. Alertou que não aceitaria intervenção da OTAN e da União Européia. Aos manifestantes, propôs ser inaceitáveis atos de violência e ocupações de prédios públicos, como os da praça de Maidan, em Kiev, que precederam o golpe ucraniano. Concedeu 1,2 bilhões de dólares de empréstimos a Lukashenko, deixando claro ser inadmissível excessos contra os manifestantes. Os jornais russos seguiram desancando Lukashenko, registrando que é apenas suportado pelo governo da Federação Russa.
Deixando para depois
A União Européia recuou no apoio ao movimento de pouca consistência. A situação econômica e sanitária não recomenda confronto mais grave com Putin, com quem passou a discutir sobre a Bielorrússia. Não houve ruptura de relações e reconhecimento de Svetlana. Trump está enredado com as eleições e o confronto com a China, o Irã, a Venezuela. Apenas Mateusz Morawiecki, primeiro-ministro polonês, insiste em ´libertar´ a Bielorrússia para a ´democracia´, enquanto afunda seu país em ordem semi-fascista.
A tendência é uma estabilização precária de Lukashenko e retomada da ofensiva imperialista a médio ou longo prazo, devido à importância geo-política e econômica da pequena república. Frederico Costa lembra que o Banco Mundial já delineou o plano de arrasamento da economia do país, à espreita da vitória da ´democracia na Bielorrússia. Lembra que “apesar de toda a corrupção e despotismo de Lukashenko, a economia estatizada é progressiva”, devendo ser defendida, junto com a independência nacional, assim como a necessidade de “democracia operária” e de "processo de auto-organização das massas”.
II. Valério Arcary Defende a “Revolução Colorida” na Bielorrússia
Em “Bielorrússia: internacionalismo socialista e campismo russófilo”, Valério Arcary aponta em sentido oposto, servindo-se da Bielorrússia para defender posição política que grupos marxista-revolucionários sustentam há décadas, a reboque da ação imperialista. Inicialmente, Valério defende que a escassa mobilização internacionalista brasileira em favor da Venezuela, Bolívia, Chile, Argélia, etc. deve-se a sermos “autocentrados”. Como a própria mobilização contra o golpe foi e segue sendo pouca, diria que sequer somos autocentrados! (2)
O autor reclama do “embaraçado silêncio sobre as impressionantes mobilizações democráticas na Bielorússia” e sua “revolução democrática clássica” que exige o “fim do regime de Lukashenko”. Não esclarece qual o tipo de regime a ser abatido e qual o regime a ser erguido. Para ele, não existe a ofensiva do grande capital e do imperialismo proposta por Frederico Costa. Em seu texto, salvo engano, há apenas duas referências ao “imperialismo”.
Nada diz sobre o programa, as reivindicações, o bloco social, os partidos, as lideranças, que revelariam o caráter “revolucionário” do movimento. Mas reconhece que “não há muitos bolcheviques” na sua direção. Não sabemos o que quer dizer com “bolcheviques”. E para justificar aquela ausência, propõe que os “bolcheviques” também não “são numerosos” nas mobilizações de Santiago do Chile, La Paz e nos USA. No Chile, lembro, o perfil dos manifestantes é unanimemente anti-liberal, o que não ocorre na Bielorrússia! Nas manifestações estadunidenses, quem levantar bandeira direitista é linchado.
Valério nega que o movimento seja liderado por “fascistas” mas reconhece haver alguns em suas filas. Desconhece toda a ação conspirativa “polonesa”. Para ele, “quem é de extrema direita é Lukashenko”. Frase vazia de conteúdo, pois nega o mundo real em que o “déspota brutal” já gozou de enorme consenso, por defender as propriedades públicas, fato também ignorado. Não diz qual o seu programa privatista e anti-social, para que seja definido de “extrema direita”.
Do campismo ao neo-campismo
Finalmente, Valério propõe que a indiferença nacional com a “revolução democrática” na Bielorrússia deveria-se à simpatia da esquerda brasileira e mundial com Putin e a Federação Russa. O que contribuiria para que tema a abertura de “caminho para um governo mais independente da Rússia”. Em verdade, a grande questão e o prato forte do artigo são as razões da simpatia na esquerda por Putin e a Rússia capitalista, que neutralizaria a ação imperialista.
O autor propõe que a Bielorrúsia seria um caso singular de doença geral, o “campismo” - a “ideologia mais poderosa na esquerda durante” a “guerra fria, quando o estalinismo era uma corrente muito mais influente do que hoje”. Lembro que, naquele então, o stalinismo era poderosa força política. Hoje, ao contrário, é esquálida nostalgia, que assume dinamismo apenas ao se metamorfosear em neo-estalinismo, uma sua quase negação. (3)
Valério segue explicando. O campismo “sustentava que o mundo estaria dividido em dois campos, o socialista e o capitalista, e a URSS seria a retaguarda histórica da luta pelo socialismo”. Assino em baixo do proposto. Efetivamente, o mundo segue dividido em dois campos irreconciliáveis, o do trabalho e o do capital. E, até 1991, a URSS foi forte apoio objetivo-subjetivo na luta pelo socialismo.
Apesar da burocracia
Entretanto, recordo que, a influência positiva da URSS era minada pela ação deletéria da burocracia que a governava. Burocracia que, como Valério propõe em forma aproximativa, pretendia que os “interesses diplomáticos da URSS deveriam ser considerados prioritários na luta contra a dominação imperialista do mundo”. Precisando. Interesses diplomáticos não da URSS, mas de sua burocracia, que militava pela colaboração de classes e por coexistência pacífica contrária à natureza profunda da luta de classe e internacional.
O autor avança exemplos da ação “campista”: o pacto Stalin-Hitler, que dividiu a Polônia e abriu as portas à II Guerra Mundial. A repressão às “mobilizações proletárias” na Hungria, em 1956, e na Tcheco-Eslováquia, em 1968. Não cita a “revolução pacífica” polonesa dos anos 1980, antecâmara da restauração capitalista. Defende como posição internacionalista correta o apoio ao mundo do trabalho, contra o capital, e a necessidade de atenção ao “contexto internacional” das crises. Dizer não é fazer. Na análise da Bielorrússia, a primeira proposta é desconsiderada e a segunda, ignorada.
Quase concluindo, Valério propõe que, no passado, devíamos rejeitar o “campismo socialista” que defendia estar o “destino da causa socialista” “associado ao futuro do governo da URSS e seus aliados”. Em verdade, o destino do socialismo não estava fortemente atrelado ao da burocracia, mas sim ao da sobrevivência da área socialista. Sua restauração capitalista ensejou o maior desastre vivido pelo mundo do trabalho e pela humanidade. Aquela hecatombe foi festejada como “grande vitória revolucionária” pelo PSTU-LIT, em 1991 e por décadas.
Um passo adiante, muitos atrás
Valério recolhe, em forma algo confusa, a proposta de León Trotsky de defesa incondicional da URSS. Ou seja, por um lado, a defesa da “natureza social dos Estados” socialistas “diante da pressão imperialista pela restauração capitalista”; e, por outro, das “conquistas da revolução”. Conquistas ameaçadas por facções burocráticas que, “para eternizar seus privilégios sociais” e políticos apontavam para a “restauração” capitalista, “na longa duração”.
Porém, o articulista logo se afasta desta posição, ao propor que a esquerda, naquele então, deveria apoiar “as mobilizações dos trabalhadores e da juventude” pelas, destaco, “liberdades democráticas”, contra os regimes burocráticos. Assim, reabriria o “caminho para a democracia socialista e o retorno ao internacionalismo”. Em verdade, em um Estado burocratizado, o estabelecimento de “liberdades democráticas” permitiria a expressão de forças pró-capitalistas. A luta era pela “revolução política”, pela restauração dos órgãos de poder dos trabalhadores, pela ditadura do proletariado.
Valério reconhece que esse debate e o “campismo” foram superados pela restauração capitalista na URSS, China, etc. Mas, segundo ele, haveria um “campismo” “nostálgico”, que desconfiaria de movimentos desaprovados pelo “Kremlin” (Moscou), não mais socialista-burocrático, mas capitalista! Se essa proposta já é estranha, mais estranha ainda é a explicação de falta de apoio internacionalista da esquerda à Venezuela, Bolívia, Paraguai, Chile, devido ao “campismo nostálgico”. Isso porque o “Kremlin” capitalista pouco se preocupou com aqueles processos, ou os apoia, como no caso da Venezuela. E, como proposto, a esquerda olha, em geral, com desconfiança a nova ordem capitalista russa.
Lukashenko é uma desculpa
A tortuosa digressão de Valério procura explicar a falta de apoio da esquerda brasileira e mundial à “revolução democrática” devido ao fato de a Bielorrúsia fazer fronteira e se apoiar na Rússia. E isso, ignorando o interesse do grande capital e do imperialismo, não na destituição de Lukashenko, mas no domínio liberal da pequena república, como avança Frederico Costa.
A ofensiva não é contra Lukashenko. Como no Brasil, em 2016, o golpe não foi contra Dilma, contra o PT e seus puxadinhos, contra a corrupção. Foi ataque geral do imperialismo contra a independência nacional, para a total formatação liberal da sociedade, hoje em curso. Foi golpe contra os trabalhadores, a população e a nacionalidade.
Valério expressa visão de tendências trotskistas morenistas, com destaque, no Brasil, para o PSTU-LIT, MES, CST, etc. (4) No passado, apoiaram o fundamentalismo islâmico, financiado pelo imperialismo, contra a Revolução Afegã, sustida pela URSS a contragosto. Festejaram a destruição da URSS e da RDA e a restauração capitalista na Roménia, Iugoslávia, etc. como “revoluções democráticas”, prelúdios de “revoluções políticas”. Então, os ditadores a serem abatidos eram Nicolae Ceaușescu, Erich Honecker, Slobodan Milošević.
Destruição da autonomia de Estados nacionais
Nas últimas décadas, os defensores destas posições apoiaram ofensivas pela subjunção neo-liberal plena de Estados em dissidência mesmo relativa com o imperialismo, também acusados de serem governados por “ditadores” não “democráticos” - Muamar Kadafi; Saddam Hussain; Bashar al-Assad; Víktor Yanukóvytch; Hugo Chaves; Nicolás Maduro, etc. O PSTU-LIT celebrou feericamente o brutal assassinato de Kadafi, propondo ter sido um “tremendo triunfo das massas”.
O mesmo ocorreu quanto das ofensivas imperialistas na Ucrânia, Síria, Venezuela, Nicaragua, Cuba, etc. No Egito, o PSTU-LIT defendeu o repressão sangrenta da Irmandade Muçulmana pelos militares pró-imperialista, que decapitaram o movimento de massas que derrotara a longeva ditadura de Mubarak. No Brasil, não apenas o PSTU-LIT se opôs à luta contra o golpe de 2016, devido ao caráter social-liberal das administrações petistas e de Dilma Rousseff.
E o que fazem as organizações que apoiaram as ofensivas imperialistas, afirmando defender ´mobilizações democráticas e revolucionárias´ fantasmagóricas, após a destruição da autonomia nacional e o saque das nações agredidas? Nações, não raro, transformadas em Estados fantoches. Elas derramam duas lágrimas, lamentam a impotência das “massas revolucionárias”, e seguem apoiando novas operações imperialistas. Sempre em nome da luta “revolucionária” pela “democracia” e contra os “ditadores terríveis”. Hoje, a bola da vez é o Irã, a Venezuela e, agora, a Bielorrússia.
León Trotsky exigia a defesa incondicional da URSS, mesmo sob a ditadura da burocracia. Assinalava assim a dominância das estruturas e relações sociais e econômicas, sobre eventuais governos. E isso, propondo sempre a luta pelo restabelecimento da ordem soviética. Exigia também a defesa incondicional da independência nacional de nações semi-coloniais ou frágeis, acossadas por Estados imperialistas, por mais “democráticos” que os últimos fossem. Defesa que prescindia do caráter do governo do Estado agredido, sem deixar de criticá-lo.
Em 1935, com a invasão fascista da Abissínia-Etiópia, comunistas italianos lutaram como instrutores dos exércitos tribais do Estado teocrático e feudal do imperador Haile Selassie, considerados por seus súditos como uma encarnação divina. E bota déspota naquele tirano! Os comunistas italianos, verdadeiros internacionalistas, sabiam quem era o inimigo a ser combatido.
Notas
(1) COSTA, Frederico. Nem tudo que reluz é ouro: a luta pela “democracia” na Bielorrússia. Esquerda.online.10/09/2020. https://esquerdaonline.com.br/2020/09/10/nem-tudo-que-reluz-e-ouro-a-luta-pela-democracia-na-bielorrussia/
(2) ARCARY, Valério. Bielorússia: internacionalismo socialista e campismo russófilo. Esquerda.online. 06.09.2020. https://esquerdaonline.com.br/2020/09/06/bielorussia-internacionalismo-socialista-e-campismo-russofilo/
(3) MAESTRI, Mário. Domenico Losurdo: um farsante na Terra dos Papagaios. Porto Alegre: FCM Editora, 2020. https://clubedeautores.com.br/livro/domenico-losurdo-um-farsante-na-terra-dos-papagaios
(4) Cf. Sobre “morenismo”. URBANO, Edison. A divisão do PSTU, o novo MAIS e a ‘persistência dos erros’ em teoria e política. 28/10/2016. Esquerdadiário. https://www.esquerdadiario.com.br/A-divisao-do-PSTU-o-novo-MAIS-e-a-persistencia-dos-erros-em-teoria-e-politica
* Mário Maestri, 72, historiador, brasileiro e italiano. É autor, entre outros, de Revolução e contra-revolução no Brasil: 1530-2019. https://clubedeautores.com.br/livro/revolucao-e-contra-revolucao-no-brasilE-mail: maestri1789@gmail.com
Nenhum comentário