Para o "Reagrupamento Revolucionário" os interesses imperialistas não influenciaram no Golpe de 2016 do Brasil
Reproduzimos abaixo a crítica dos camaradas do Grupo Bolchevique (볼셰비키그룹) da Coreia do Sul ao "Reagrupamento Revolucionário" do Brasil, que assumiu uma posição de negação da fartamente comprovada influência dos EUA no Golpe de Estado de 2016, crítica com a qual compartilhamos. Trata-se de um extrato de um documento maior do Grupo Bolchevique denominado "The Exchanges with Revolutionary Regroupment from Dec 2018 to Sep 2020: Imperialism, National Liberation and Permanent Revolution and also, a reply to the RR and BL".
3. Sobre a questão brasileira
Em agosto de 2019, pedimos uma verificação dos acordos entre os dois agrupamentos.
“Mas vocês, camaradas, têm uma posição semelhante a nossa em táticas no Egito, Turquia, Líbia, Brasil e Síria, que têm sido os grandes problemas entre a IBT e nós.”
Então, RR enviou este parecer em julho de 2020.
“Falando no Brasil, sabemos que o governo do PT esteve em excelentes relações com as potências imperialistas durante toda a sua existência. O golpe, que nunca chegou a um confronto físico, foi muito mais resultado de questões internas do que de ingerência/intervenção imperialista. Isso porque os interesses imperialistas nunca estiveram em jogo. ”
RR está falando do Brasil que “os interesses imperialistas nunca estiveram em jogo [no golpe de 2016]”
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Julgamos que o Brasil é uma neo-colônia.
Em outras palavras, foi capitalizado pela iniciativa do capital financeiro imperialista. O capital dominante, como bancos e indústrias-chave, foi construído para o superlucro do capital financeiro imperialista e é controlado direta e indiretamente por ele. O sistema de governo nacional, assim como o político e militar, foi construído em torno do interesse do capital financeiro imperialista.
A exploração é apoiada apenas pela violência. Portanto, o exército, o departamento de inteligência, a polícia, etc. têm uma relação estreita com o capital financeiro imperialista. É por isso que houve tantos golpes na neocolônia, enquanto poucos golpes nos países imperialistas.
Achamos que o Brasil também compartilha dessas características e história. E precisamos de estudos sincrônicos e diacrônicos sobre o capitalismo brasileiro.
RR diz que “os interesses imperialistas nunca estiveram em jogo. [no golpe de 2016]”, mas existem algumas razões para não dizer “nunca”:
“Os laços de Michel Temer com o governo dos EUA, revelados pela Biblioteca Pública de Diplomacia dos EUA do WikiLeaks, somam-se ao crescente corpo de evidências de que o impeachment parlamentar da presidente democraticamente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, foi apoiado por aliados em Washington.” — WikiLeaks: o presidente interino do Brasil Michel Temer é informante diplomático dos EUA , 13 de maio de 2016
“Em vez de fortalecer as instituições regionais, a política de Temer promove o livre comércio, busca privatizar empresas estatais e prioriza as relações econômicas com os Estados Unidos e nações europeias.” — Conselho de Assuntos Hemisféricos, O Governo Temer e a Ameaça ao Processo de Integração Regional Sul , 20 de julho de 2016
“Precisamos de ações de classe – não “movimentos” vagos, mas medidas concretas – como greves reais, não simbólicas, e ocupações de fábricas para afundar os cortes orçamentários, as privatizações e as “reformas” ordenadas pelo grande capital e pelo imperialismo, que está aplicando no Brasil o mesmo programa que na Grécia.” ― IG, Brasil: Não ao Impeachment! , abril de 2016
“VAZAMENTO DE CONVERSAS ENTRE autoridades brasileiras revelam o funcionamento interno de uma colaboração secreta com o Departamento de Justiça dos EUA em um amplo esforço anticorrupção conhecido como Operação Lava Jato. Os bate-papos, analisados em parceria com a agência de notícias investigativas brasileiras Agência Pública, mostram que os brasileiros foram extremamente complacentes com seus parceiros norte-americanos, fazendo de tudo para facilitar seu envolvimento de maneiras que podem ter violado tratados jurídicos internacionais e a lei brasileira.” — The Intercept, 12 de março de 2020, “MANTENHA CONFIDENCIAL” A história secreta do envolvimento dos EUA na operação Lava Jato do Brasil
“depois que os documentos da NSA vazados por Snowden revelaram que a agência de espionagem eletrônica dos EUA havia monitorado as ligações telefônicas do presidente brasileiro, bem como as embaixadas brasileiras e espionado a estatal petrolífera Petrobras”. — Guardian, 24 de setembro de 2013, presidente brasileiro: vigilância dos EUA é uma 'violação do direito internacional'
Não temos plena consciência da situação específica da história brasileira e das organizações sociais. Mas, no mínimo, sabemos que as palavras “interesses imperialistas nunca estiveram em jogo”. são palavras perigosas que muito provavelmente estão erradas.
Olhando assim para as respostas dessa pergunta, tivemos um vislumbre do quão ingênua e frívola é a forma que o RR lida com a importante questão até mesmo no Brasil.
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